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amulherqueamalivros

Qua | 23.08.23

Tudo é Rio, Carla Madeira

Cláudia Oliveira

Tudo é Rio

Temas violentos necessitam da coragem do escritor. A coragem deve ser valorizada. Impactar muitas vidas e impressionar pelos temas aumenta os aplausos. Livros que fazem nascer novos leitores devem ser recompensados com muitas vendas.

Não é função do leitor criar personagens com substância, isso é o trabalho do escritor. As motivações das personagens devem ser explicadas.

O uso e abuso do recurso estilístico antítese dá-me comichão. Usar termos opostos dá a sensação de uma escrita mais bonita do que realmente é. A repetição é chata. Intercalar o obsceno com frases bonitinhas não enriquece nenhuma narrativa.

A poesia não é só e apenas dizer coisas bonitas. É fazer sentir coisas sem as dizer. Essa é a diferença da boa e da má poesia. Dizer, por exemplo, és o sol da minha escuridão, é uma antítese e tentativa de ser poético.

Quando os autores conseguem fazer o leitor sofrer, sem obrigá-los, de forma subtil, ele é maravilhoso. Quando o autor está o livro inteiro a querer impressionar pela dor e fá-lo de forma clara, não é ser mestre, é ser aprendiz. Eu reparei no que fizeste o verão passado.  

Outra coisa, querer usar vocabulário vulgar (para obsceno com qualidade temos Hilda Hilst, a rainha, para outras situações temos Jorge Amado e Nelson Rodrigues, as referências) de forma a mostrar o ambiente das personagens é bastante válido. No entanto, usar de forma repetida, manter-se nesse registo ao longo de vários capítulos, para apressar situações de maior interesse, dá a sensação de que a obra é mais profunda do que é, pelo impacto das palavras. Não é.

Depois, vai do gosto do leitor. Aquilo que leu ao longo da vida vai ditar o resultado para considerar a voz do escritor uma nova voz no meio de tantos outros, inédito. Um leitor atento fará sempre comparações. O gosto pessoal fará a diferença na hora de avaliar as obras que lê. Os critérios que tem dentro de si formarão uma opinião.

Opiniões não ditam a qualidade do escritor para outro leitor. Qualidade é uma coisa, gostar é outra. Ninguém se deve aborrecer por causa de opiniões contrárias às suas.

Frases bonitas não fazem livros. Deus também sabe disso.

Desde quando é que passámos a ter medo em sermos sinceros?

 

Sugestões melhores:

Jorge Amado, Nelson Rodrigues, Hilda Hilst, Lygia Fagundes Telles e Clarice Lispector (tudo!)

Quarenta Dias, Maria Valéria Rezende

O Quinze, Rachel de Queiroz

Uma Duas, Eliane Brum

 

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