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amulherqueamalivros

Sab | 08.10.16

Fui conhecer o escritor Mario Vargas Llosa

Cláudia Oliveira

 

Para muitos, conhecer Mario Vargas Llosa é só conhecer um escritor. Para mim é algo especial e inesquecível. Li "As Travessuras da Menina Má" numa altura em que eu mesma era como a menina má. A minha experiência de leitura foi tão intensa que cheguei a pensar que aquele livro podia muito bem ser sobre mim. E depois do livro veio a minha admiração pelo escritor. Curiosa, pesquisei tudo sobre ele. Tentei conhecer mais, ler entrevistas e outros livros. Tenho ali o seu romance mais aclamado "Conversas na Catedral", mas ando a poupar. Faço sempre isso com os meus escritores preferidos. Não me perguntem as razões. Já li também "O Herói Discreto" e gostei bastante. 

 

Este escritor construiu umas das minhas personagens preferidas e tenho por ele uma admiração gigante. A forma como faz da literatura uma ferramenta contra a corrupção, a ditadura, defender os seus valores e dar voz ao povo do seu país. Hoje fui vê-lo, escutá-lo e só não o consegui abraçar. 

 

O encontro aconteceu no Centro Cultural de Belém na Sala Almada Negreiros pelas 18 horas. Mario Vargas Lloso foi apresentar o seu último romance, "Cinco Esquinas". Li o romance este verão, não é o meu preferido, mas escutar as suas palavras fez-me rever um bocadinho a minha opinião e aprofundar os meus conhecimentos e entender melhor algumas informações.

 

Foram feitas várias perguntas. Todas interessantíssimas. E fiquei ainda mais encantada com a nobreza e simplicidade da personalidade que demonstrou. Receber o Nobel da Literatura foi "uma semana divertida, um ano infernal". Várias viagens, congressos, pressão para escrever, falta de tempo para conseguir escrever. Falou no Claudio Magris como um dos seus preferidos para o próximo Nobel (já dia 13 de Outubro). Também conseguiu escapar quando lhe perguntaram qual o seu escritor brasileiro preferido para o Nobel. 

 

Um dos homens que mais admira é o Mandela, "É impossível não admirar uma homem como ele". Um dos seus livros preferidos é O Livro do Desassossego, do Fernando Pessoa. Costuma reler alguns livros, entre eles, Doutor Fausto e Guerra e Paz.  "Precisava de um barco para trazer a minha biblioteca comigo". Com humor e simpatia confessou que compra várias edições do mesmo livro porque a sua biblioteca pessoal está espalhada por Madrid, Peru e Paris. 

 

Falou na importância da literatura. "É fundamental, não é puro entretenimento". Os jovens precisam de ler desde cedo, porque estimula a criatividade e a sensibilidade. Duas qualidades necessárias que o autor considera importantes para o crescimento favorável da sociedade. Ter uma boa formação literária "é uma forma de enriquecer a vida dos outros". Mostrou algum receio em relação à quantidade de informação nos tempos actuais. Será que a cultura chegará a todos desta forma? "A cultura que chega a todos já não se pode chamar de cultura porque se perdeu...", acrescenta, "um mundo de muitos especialistas pode ser um mundo de muitos incultos". 

 

Foi aplaudido quando perguntaram como se sentia com oitenta anos. "Sinto-me muito jovem!". Tem alegria e sede de vida, cheio de projectos, fala na morte como um acidente no meio deles. Acabou por revelar que está a escrever um ensaio e desvendou o tema. 

 

No final tive oportunidade de pedir um autografo e tirar fotos para mais tarde recordar. Foi um dos melhores dias da minha vida. Ouvir palavras de alguém que admiramos converte-se em amor. E o amor é o melhor dos sentimentos.

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