A Vegetariana | Han Kang
Minha pontuação 5*
Começo por dizer que a maior parte das pessoas vai detestar este livro. Se a relação não for ódio, vai andar muito perto disso. Primeiro porque o livro ganhou um prémio muito importante no mundo literário: Man Booker Prize. E está a ser vendido com uma faixa amarela muito chamativa de forma a mostrar a importância desse mesmo prémio. Ok, quem não liga aos prémios não irá sentir esse problema. Eu ligo. Eu sou dessas. Mas esse não será só o único motivo para alguém detestar este livro. Há mais. Depois haverá quem não vai entender patavina do que leu. E é completamente compreensível, sobretudo se nunca proferiu esta palavras no meio de um grupo de pessoas: "não como carne".
Quando comecei a ler este livro comecei logo a pensar na Elena Ferrante que estava na lista dos finalistas juntamente com a autora deste livro. E comecei ao fim de vinte páginas lidas a perguntar-me: "porquê que esta escritora ganhou à outra?". Os gostos são subjectivos, o júri tem motivos para dar o prémio a uma e não a outra. E só no final consegui entender os motivos. É um livro fantástico! Nunca li nada igual.
O livro começa de uma forma bem leve. Uma mulher tem um sonho e a partir dele acaba por decidir que quer ser vegetariana. Mas a história não é só esta. Temos a reacção de todos os que a rodeiam. Transformam-se em médicos e sabem o que é melhor para ela. Consideram uma opção esquisita e acabam por tratá-la como uma louca. É incrível como a escolha de uma pessoa pode incomodar tantas outras. A escolha nesta história é como que uma metáfora. Podia ser outra coisa qualquer para além do vegetarianismo. Tudo o que é diferente dos padrões estabelecidos pela sociedade é anormal.
A história muda várias vezes de voz. Acho o marido dela um inútil e machista. Trata-a de uma forma desprezível, mas em relação à forma como leva a vida é normal (na sua mente pequena). Sente vergonha da mulher, sente nojo. Tenho tanta pena que a sociedade represente o discurso deste homem. Apontam inutilidades nos outros, mas nunca se olham ao espelho.
"Enquanto eu passava a tarde sem fazer nada, agarrado ao comando da televisão, ela fechava-se no quarto. O mais provável era que passasse o tempo a ler, e esse era praticamente o seu único passatempo."
A narrativa é sensorial e muito visceral. Quando uma escritora consegue passar sensações boas ou más tem o meu respeito. Quando a mensagem do livro consegue comunicar com o leitor sem ser explicita tem a minha admiração. Quando sinto que já estive na mesma posição que a protagonista em algumas situações (também decidi deixar de comer carne há um ano) o livro reúne tudo o que mais gosto, não podia deixar de sair bastante satisfeita com um livro.
Bastante recomendado, mas com um pequeno aviso, preparem-se para ler algo muito estranho.