"A PAIXÃO SEGUNDO CONSTANÇA H." | MARIA TERESA HORTA
Foi uma leitura intensa, entregue às emoções.
A história da Constança remexe os sentidos e permanece finalizada a leitura. A loucura assolapada da protagonista entranha-se gradualmente. Através de poemas, pedaços de diários e momentos narrados na terceira pessoa ficamos a conhecer a paixão da Constança por Henrique.
A descoberta da sexualidade, no espirito conservador da família. Constança desde cedo que é curiosa, procura respostas nos livros e observa atentamente o que desconhece. Demonstra uma personalidade forte, embrenhada em conflitos interiores.
Há uma inexistente ligação com a mãe que parece ter um desgosto relativo à personalidade desafiadora da filha. No hospício a mãe retira-lhe os poemas, alegando que a escrita é causadora pelos transtornos psicológicos. Inferniza, reprime, humilha.
"A mãe murmura às vezes quando me vem ver: "Ela está completamente louca", numa voz neutra, tal como agora são os seus cabelos, bem arranjados, as unhas rosadas perto do seu rosto rosado."
"... mas aqui longe, por escrito, tenho mais coragem para dizer o que penso, torna-se mais fácil enfrentar certas coisas que por hábito calo."
Surpresas trágicas unidas de erotismo são mergulhos absolutos na maravilhosa escrita de Maria Teresa Horta. Os mais atentos vão para além do que é dito, sentirão o peso da paixão na vida da Constança. O amor por um homem à frente do amor pelos filhos perturba e pode determinar os sentimentos do leitor em relação a esta mulher.
Constança é uma mulher apaixonante, louca e perturbada. Lê Clarice Lispector, Virgínia Woolf e Sylvia Plath. Escreve, expõe fragilidades. Vê na paixão nua e crua a única condição para viver. Foi surpreendentemente uma leitura visceral que deixou marcas. Fez-me enfrentar fantasmas do passado, entregar-me ao escuro da noite e ter pesadelos.
Recomendo muito. Quero ler tudo desta autora fantástica. Este livro foi lançado pela Bertrand, está à venda por apenas cinco euros.
(livro para o projeto Ler os Nossos)