Não Saí da Minha Noite foi o terceiro livro que eu li da autora. Apaixonei-me pela sua escrita com este livro. Li antes O Acontecimento e Uma Paixão Simples. Não foram leituras marcantes. Foi este último título publicado em Portugal que fez nascer em mim a vontade de ler a obra inteira da autora. Encomendei mais um hoje de manhã.
Os seus livros não entregam desenvolvimento, entregam sentimentos despidos. Livros curtos, sem necessidade de ir além. Sentimentos à flor da pele, sentimentos comuns do ser humano. Annie escreve sobre amor, desgosto de amor, morte e vida. Tem um olhar cru e perspicaz de forma a congelar memórias em palavras. É como um espelho da alma para os leitores.
Gostei muito. Fico contente por não ter desistido dela.
Acho que quem gostou de Leme vai gostar deste livro. Acho que há muito de Annie nos livros da Madalena Sá Fernandes.
Confessar: nunca desejei nada senão o amor. E a literatura.
Perder-se revela o diário íntimo mantido por Annie Ernaux durante o ano e meio em que viveu uma relação intensa e secreta com um diplomata russo, mais jovem, casado, que a deixou à beira da obsessão. Conhecem-se em setembro de 1988. Annie está divorciada, tem dois filhos crescidos, mora nos arredores de Paris e acaba de fazer quarenta e oito anos. Sem conseguir trabalhar num novo livro e desempenhando automaticamente as tarefas banais do dia a dia, é a expectativa da visita daquele homem que lhe ocupa os pensamentos. Quando tudo acaba, sem um gesto de despedida, restam-lhe os sonhos – e a escrita. Esta é a relação retratada em Uma Paixão Simples, aqui exposta através de apontamentos mais imediatos e sem artifícios, que põem a nu toda a vulnerabilidade de uma mulher perdida de amor e de desejo.
A obra-prima de uma escritora catapultada para a fama literária mundial aos 85 anos. A história de uma família em que as mulheres procuram fugir à norma, com ecos de Lucia Berlin, Shirley Jackson e Carson McCullers.
Na cidade argentina de La Plata, nos anos de 1940, conhecemos Yuna e Petra, duas primas que pertencem à mesma família disfuncional, precária e destinada à desgraça. Pela voz de Yuna, vemos um universo tortuoso de mulheres abandonadas à sua sorte, a braços com a pobreza, a deficiência, o delírio fantasmagórico e a pressão social.
Para se evadir do cerco das histórias de ameaças, violações e homicídios, Yuna recorre à sua imaginação artística: a cada episódio de violência, pinta uma nova tela. Vendo na arte uma fuga ao estropiamento familiar, Yuna lança sobre o seu mundo um olhar selvático — ora cândido e perspicaz, ora violento e ensimesmado — e protagoniza uma história que desafia todas as convenções literárias.
Aurora Venturini poderia ser uma das peculiares personagens dos seus romances, já que o seu percurso ficou marcado pelo fait-divers de ter vencido um concurso literário para novos talentos quando já tinha escrito dezenas de livros e se aproximava do fim da vida.
Entre o romance de formação, a delirante autobiografia, o divertimento literário e a radiografia de uma época, As Primas é uma obra que celebra, ao mesmo tempo, as dimensões universal e privada da literatura, revelando a desconcertante originalidade de uma autora que ousa colocar perguntas quase sempre cuidadosamente mantidas em silêncio.
Escrito em grande parte durante o confinamento e a doença, e concluído após uma longa gestação, O Quarto do Bebé é um romance autoficcional em forma de diário íntimo.
Depois da morte de um conhecido psicanalista, a filha, sua única herdeira, encontra entre os papéis que ele deixou o diário de uma paciente. Tem título - Fala Orgânica - e está assinado: Ester do Rio Arco. O que começou por ser uma curiosidade transformou-se numa obsessão e objeto de leitura compulsiva. Neste manuscrito, a filha do psicanalista vai encontrar não apenas uma forma de conviver com o pai, como também inúmeros pontos de identificação com a paciente dele.
Os temas são os do dia a dia do isolamento e da doença, a escrita, o corpo, a mutilação, a relação com a mãe e com as origens, a ligação profunda a uma amiga (figura tutelar e espécie de mãe de Ester) e a morte dela. Em suma, a perda, a infertilidade, maternidade e filiação, nascimento e morte. O arco narrativo desenha-se a partir do que poderia vir a ser um quarto de bebé, mas que nunca albergará uma criança, até à transformação desse quarto num lugar físico e mental de criação, nomeadamente da escrita.
Daqui emerge ainda um retrato antropológico do país em que os pais estiveram na guerra e as mães escreveram aerogramas, e é exposta a violência que a sociedade patriarcal exerce sobre as mulheres. Com ecos do universo literário da recentemente nobelizada Annie Ernaux, uma das grandes referências da autora, O Quarto do Bebé é um relato cru e corajoso que revela uma nova e envolvente faceta de Anabela Mota Ribeiro.
Este é um dos mais espantosos, desafiadores, perturbadores e profundamente comoventes romances publicados nas últimas décadas: um épico sobre o amor e a amizade no século XXI, que visita alguns dos lugares mais assustadores onde a ficção já se aventurou; um livro que, desafiando explicações e todas as probabilidades, emerge do lado da luz.
Quatro colegas de uma pequena universidade do Massachusetts mudam-se para Nova Iorque para começar a vida adulta. Sem dinheiro e em busca de um caminho, contam apenas com as suas ambições e com a amizade que os une. Bonito e generoso, Willem tenta vingar como ator; nascido em Brooklyn, inteligente e mordaz, por vezes cruel, JB quer afirmar-se como pintor na cena artística de Manhattan; Malcolm é um arquiteto frustrado com o seu trabalho num ateliê de renome; e Jude, brilhante, enigmático e fechado, é o centro de gravidade do grupo.
Ao acompanhar os quatro amigos durante décadas, vemos como as suas relações se aprofundam e ensombram, marcadas pela dependência, pelo êxito e pelo orgulho. Porém, o seu grande desafio, compreenderão eles, é Jude, que se torna um advogado temido pelos seus pares, mas que é um homem cada vez mais destroçado, física e psicologicamente marcado por uma infância inimaginável e perseguido por um passado traumático que teme jamais conseguir ultrapassar.
Numa escrita resplandecente, magnífica e assombrosa, Hanya Yanagihara compõe um hino trágico e transcendente ao amor fraternal, revela o sofrimento e o desgosto de forma ímpar, e retrata a tirania da memória e dos limites da capacidade humana para resistir.
Asle e Alida vagueiam exaustos no frio, na chuva e na escuridão pelas ruas de Bjørgvin em busca de um tecto que os abrigue. Alida está grávida, mas todas as portas se fecham perante as súplicas do jovem casal. O que terá motivado a sua vinda para esta cidade hostil onde ninguém os conhece? De que passado parecem fugir eles?
Inseparáveis desde o dia em que se conheceram, quando Asle era tocador de violino e a sua música era como o canto do pai de Alida, sabem que só se têm um ao outro e que o seu amor vencerá o pecado e a morte.
Composta por três novelas — Vigília (2007), Os Sonhos de Olav (2012) e Fadiga (2014) —, escritas numa linguagem simples e inspiradora e que se fundem numa única história, Trilogia é uma parábola de inspiração bíblica sobre o amor, o crime, o castigo e a redenção, que valeu a Jon Fosse, um dos escritores mais celebrados da nossa contemporaneidade, o Prémio Literário do Conselho Nórdico.
Autor multipremiado, com destaque para o Prémio Internacional Ibsen, o Prémio Europeu de Literatura e o Prémio de Literatura do Conselho Nórdico.