Tudo é Rio, Carla Madeira
Temas violentos necessitam da coragem do escritor. A coragem deve ser valorizada. Impactar muitas vidas e impressionar pelos temas aumenta os aplausos. Livros que fazem nascer novos leitores devem ser recompensados com muitas vendas.
Não é função do leitor criar personagens com substância, isso é o trabalho do escritor. As motivações das personagens devem ser explicadas.
O uso e abuso do recurso estilístico antítese dá-me comichão. Usar termos opostos dá a sensação de uma escrita mais bonita do que realmente é. A repetição é chata. Intercalar o obsceno com frases bonitinhas não enriquece nenhuma narrativa.
A poesia não é só e apenas dizer coisas bonitas. É fazer sentir coisas sem as dizer. Essa é a diferença da boa e da má poesia. Dizer, por exemplo, és o sol da minha escuridão, é uma antítese e tentativa de ser poético.
Quando os autores conseguem fazer o leitor sofrer, sem obrigá-los, de forma subtil, ele é maravilhoso. Quando o autor está o livro inteiro a querer impressionar pela dor e fá-lo de forma clara, não é ser mestre, é ser aprendiz. Eu reparei no que fizeste o verão passado.
Outra coisa, querer usar vocabulário vulgar (para obsceno com qualidade temos Hilda Hilst, a rainha, para outras situações temos Jorge Amado e Nelson Rodrigues, as referências) de forma a mostrar o ambiente das personagens é bastante válido. No entanto, usar de forma repetida, manter-se nesse registo ao longo de vários capítulos, para apressar situações de maior interesse, dá a sensação de que a obra é mais profunda do que é, pelo impacto das palavras. Não é.
Depois, vai do gosto do leitor. Aquilo que leu ao longo da vida vai ditar o resultado para considerar a voz do escritor uma nova voz no meio de tantos outros, inédito. Um leitor atento fará sempre comparações. O gosto pessoal fará a diferença na hora de avaliar as obras que lê. Os critérios que tem dentro de si formarão uma opinião.
Opiniões não ditam a qualidade do escritor para outro leitor. Qualidade é uma coisa, gostar é outra. Ninguém se deve aborrecer por causa de opiniões contrárias às suas.
Frases bonitas não fazem livros. Deus também sabe disso.
Desde quando é que passámos a ter medo em sermos sinceros?
Sugestões melhores:
Jorge Amado, Nelson Rodrigues, Hilda Hilst, Lygia Fagundes Telles e Clarice Lispector (tudo!)
Quarenta Dias, Maria Valéria Rezende
O Quinze, Rachel de Queiroz
Uma Duas, Eliane Brum
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