CROÁCIA | Raposa, Dubravka Ugresic
Editora Cavalo de Ferro
Lançamento Setembro 2018
Dubravka Ugresiv nasceu na Croácia. Atualmente dá aulas em várias universalidades nos Estados Unidos e na Europa. É considerada uma das mais importantes escritoras da atualidade. Foi vencedora de vários prémios literários, incluindo o prémio Heinrich Mann para ensaio e o prémio Pen 2006, bem como finalista dos prémios Femina e Man Booker Internacional. Em 2016, a sua obra foi distinguida com o prestigiado prémio Neustadt de Literatura.
Não dá para resumir este livro. Nem esperar que ele tenha uma construção vulgar ou um clímax. É um livro fragmentado, sem uma linha condutora. Como um novelo de vários fios de diversas texturas. E são exatamente estes os meus livros preferidos. Absorvem a nossa mente, entregam passagens excepcionais atrás de passagens excepcionais.
A sinopse entrega pouco do que este livro tem para oferecer. Temos o escritor Boris Pilnyak que descobre a autobiografia de Sophia Vasilyevna, que se apaixonou por um oficial japonês e alterou toda a sua vida em prol dessa paixão. Boris fascinado com a história dos dois decide escrever um romance. Dando lugar a algumas dúvidas, o que é real ou ficção?
Conforme o livro avança vamos ser levados até à Rússia e ao Japão. Preparem-se para várias referencias que dificultam o entendimento absoluto desta história. Mas não se importem muito. É narrado com mestria, escrita absolutamente inteligente e certeira. O título também foi escolhido com um propósito, a raposa é um elemento representativo bastante mencionado.
"Tanto na imaginação coletiva ocidental, como na oriental, a raposa é, invariavelmente, uma malandra, uma trapaceira, mas, além disso,é também tratada como um demónio, uma bruxa, uma «noiva maléfica» ou - como acontece na mitlogia chinesa -a forma animal da alma de um falecido."
A literatura é a rainha neste livro, cujo a vida moderna é um dos assuntos mais dissecados pela autora. Muitas reflexões, panos para mangas.
"O mais recente conjunto de metáforas para a vida está alinhado com a tecnologia digital (Não era eu, era o meu avatar! A vida dele está reduzida a um tweet), e o digital poderá, um dia, ultrapassar o literário. "
"As nossas relações com outras pessoas são tóxicas, o nosso ambiente é tóxico, os alimentos que comemos são tóxicos. Eis a palavra-chave dos nossos tempos: tóxicos."
E a mulher é outro assunto. Onde senti representada a minha posição em relação ao mundo e ao retrado que a literatura faz de nós.
"As raparigas são retratadas como «jovens senhoras» e «princesas» aborrecidas, «modelos» adolescentes, «compradoras», minimulheres que falam de forma insegura, tal como farão quando crescerem , se vierem a crescer. São pequenos clones femininos com cabeças grandes (com um abundante cabelo ondulado); passeia-se, cambaleantes, em sapatos de salto alto, muito alto e «clicam» nos seus smartphones, preferem tais aparelhos às tradicionais varinhas de condão."
Foi o melhor livro que li para este projeto, e também o mais exigente. Recomendo para leitores que gostam de filosofia, referências político sociais e livros exigentes.
Faltam 189 países 189 escritoras para concluir este projecto.
Três palavras para este livro:
- Literatura
- Política
- Crítica Social
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