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amulherqueamalivros

Qui | 16.08.18

DE 5 EM 5 + LEITURAS EM ANDAMENTO (42)

Cláudia Oliveira

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Já não fazia um 5 em 5 + leituras em andamento desde o dia 28 de dezembro do ano passado. Quem tinha saudades? Este ano optei por não gravar vídeos com esse formato porque não contava ler tanto como o ano anterior, mas a verdade é que estou a ler mais. 

 

O que é o 5 em 5? É onde conto quais foram as últimas cinco leituras concluídas e ainda revelo quais os livros que ando a ler. Vamos a isto? É uma pilha muito diversificada, com dois preferidos deste ano. Eu avisei que ia começar a ler melhor na segunda quinzena deste ano, e estou a cumprir. 

 

Digam-se se ficaram com vontade de ler algum dos livros mencionados, ou se já leram e o que acharam. 

 

As últimas cinco leituras concluídas

 

Trânsito, Rachel Cusk (Quetzal)

Pertence ao segundo livro da trilogia iniciada por Contraluz protagonizada pela Faye. Ela pretende mudar-se para Londres após o divórcio e decide escolher uma casa má, bem situada para conseguir escrever. Ela é escritora, tem dois filhos e pouco dinheiro. Mais uma vez somos levados para dentro da vida da protagonista e assistimos de perto às suas divagações sobre maternidade, casamento, escrita, realização pessoal.

 

Não foi uma leitura fácil, senti um certo distanciamento em relação à apática Faye e restantes personagens. Adorei as passagens dedicadas aos escritores e à forma como ela faz da banalidade algo mais interessante. Gosto da verdade crua, da sinceridade que incomoda. Mas gosto sobretudo da escrita da Rachel Cusk. No final, acabei por gostar menos deste segundo livro, mas valeu a pena a leitura. Espero que o terceiro seja publicado no próximo ano de forma a encerrar esta trilogia. 

 

"Conseguia ler uns seis e sete livros por semana. Por vezes, ia já a meio de um livro e de repente lembrava-se de que já o tinha lido. Era natural que isso acontecesse, dada a quantidade de coisas que lia, mas, mesmo assim, era um tanto perturbador o tempo que levava a tomar consciência disso." 

 

"...lembrei-me das suas observações acerca da natureza esgotante dos estudante e pensei como muitas vezes as pessoas se revelavam involuntariamente por aquilo que notavam nos outros."

 

 

Chama-me Pelo Teu Nome,André Aciman (Clube do Leitor)

Que livro apaixonante este. Um dos favoritos deste ano e não vai arredar pé tão depressa do pódio de 2018. Li este livro sobre o ponto de vista de adolescente apaixonada por um homem mais velho rodeada de memórias fantásticas sobre as minhas paixões do passado. Reencontrei a minha loucura e intensidade no Elio que se apaixonada pelo Oliver. Elio é um rapaz italiano, muito inteligente, na descoberta da sexualidade e no pico da adolescência. Naquela fase em que tudo é vivido a 200 à hora e pode acabar amanhã. Oliver é um homem que vai passar alguns dias na casa dos pais do Elio e desfrutar de um dos melhores Verões da sua vida. Um livro onde a homossexualidade é encarada com naturalidade pelo narrador, mas com o dedo na ferida. Tem de ser às escondidas, ninguém pode saber. No entanto, não tem medo do julgamento do leitor, assume as suas maiores fragilidade e entrega-se à paixão e sofrimento.

 

Também li o livro com olhar de mãe. Uma mãe que quer os seus filhos livres para amar sem arrependimentos. Com a certeza que estarei vigilante, mas pronta para lhes mostrar que devem sempre escolher a verdade. Que a vida passa num ápice, que devem procurar ser felizes sem amarras.

 

Senti o calor de Itália, senti a química das personagens e aplaudi de pé o discurso final do pai do Elio. Quantos pais precisam de ler este diálogo? A narrativa chega a ser poética tal a força da paixão. E ao contrário do que foi dito por mim, o filme não é melhor. O filme é uma obra prima. O livro outra. E aqui começa outra discussão, o que é uma obra prima? Para mim, é a perfeição que une a história, narrativa e a intensidade da sua leitura. O que eu sorri e chorei com este livro. E sabem o que mais me deixa feliz? Saber que muitos adolescentes vão ter acesso a livros como este. 

 

" O que me surpreendia não era apenas o seu talento incrível para ler as pessoas, para vasculhar dentro delas e desenterrar a capacidade para intuir as coisas exatamente da mesma maneira como eu intuiria. Isto, no final, foi o que me atraiu nele, com uma compulsão que ultrapassava o desejo ou a amizade ou o fascínio de termos uma religião em comum."

 

"Vemos alguém, mas na verdade não o vemos, ele está à espera. Ou reparamos nele, mas não há uma conexão, não há o clique, e antes que possamos perceber essa presença, ou aquilo que nos desassossega, as seis semanas que nos foram proporcionadas estão quase a terminar, e ele já se foi embora ou está prestes a ir..."

 

"Hoje, a dor, o crescendo, a emoção de algo novo, a promessa de tamanha felicidade à distância de um dedo, a atrapalhação ao redor de pessoas que talvez tenha percebido mal e que não quero perder e que preciso de descodificar a cada momento, a astúcia desesperada com que lido com todos os que amo e desejo que me amem também, os biombos que ergo, como se entre mim e o mundo não houvesse apenas uma, mas varias portas de correr feitas de papel de arroz, a urgência para codificar e descodificar aquilo que nunca esteve codificado - tudo isto começou no verão em que Oliver ficou na nossa casa."

 

 A Casa da Beleza , Melba Escolbar (Suma de Letras)

Como thriller deixa um bocado a desejar, como critica social e retrato das mulheres na Colombia é uma excelente escolha. Toca em assuntos pertinentes e atuais como a questão das diferenças sociais e de género. Na luta pela independência e poder. Onde o dinheiro comanda, os interesses políticos idem. 

 

Karen vai trabalhar para um clínica estética em busca de melhores condições de vida. Trabalha entre mulheres, com marcações e está rodeada de clientes ricas. Ela tem o azar de umas das suas clientes morrer após os seus serviços de depilação, o que é levada para o meio da investigação. 

 

A narrativa flui muito bem, os capítulos são curtos. Foi um livro que devorei, mas não me envolveu como gostaria sobretudo como thriller. Acabei por gostar mais da questão social e do papel da mulher no mundo atual. O livro é curto, quando dei por mim, terminou, mas senti falta de maior clima de tensão. 

 

"Desde muitos pequenas que as negras e as multas alisam o cabelo com o ferro, com creme, com secador, com pílulas mastigáveis, desfrisam o cabelo, põem máscaras, dormem com meias de nylon na cabeça, usam um selador de pontas de silicone. Ter o cabelo liso é tão importante como usar um soutien, é parte imprescindível da feminilidade, e há que fazer aquilo que preciso fazer, encher.se de coragem, encher-se de pinças metálicas e estar disposta a aguentar puxões e a passar horas nessa questão que é dispendiosa e incómoda, mas também necessária para conseguir o cabelo perfeito, diz Karen com a sua voz de tambor." 

 

Mikhail e Margarita, Julie Lekstrom Himes (Elsinore)

Imaginem o autor d'O Mestre e Margarita como protagonista de um livro. Agora imaginem que ele se apaixona pela Margarita que por acaso é amante do seu melhor amigo preso por questões políticas. Temos o fio condutor deste livro. Uma história passada em 1933, numa atmosfera sombria da Rússia estalinista onde várias figuras intelectuais se cruzam.

 

O que menos gostei nesta livro foi a narrativa da Julie. Esperava algo mais rebuscado. No entanto, encontrei uma narrativa muito simplória, apesar de complexa na caracterização das personagens. No inicio estava a gostar muito, mas o entusiasmo esmoreceu com o desenvolvimento pouco intenso e com pouca ação. Talvez a culpa seja o facto de não ter lido o clássico de Bulgakov. Nunca cheguei ao fim. Mas um dia volto a ele. 

 

 

Pequenos Fogos em Todo o Lado, Celeste Ng (Relógio d'Água)

Oh livro que aos poucos entrou na minha vida e me deixou com a cabeça nele até agora. Saudades das personagens, da história, dos fogos que aqui e ali se acendem. Ao ler as várias opiniões noto uma enorme diversidade nas experiências. Para uns foi um livro sobre vidas deixadas ao abandono, para outros sobre adolescentes. Para uns um livro sem emoção, para outros um livro intenso. Bem, eu tenho tanto para dizer sobre este livro que nunca vou conseguir dizer tudo. 

 

Até ao capitulo sete estava a achar o livro razoável. Pensei, mais uma banhada feita fumaça. No entanto, depois deste capitulo foi sempre a somar. O livro cresceu, as personagens sentaram-se no sofá da minha casa e nunca mais se quiserem levantar até eu ler o final que explica o inicio do livro. 

 

Acabou por ser um dos preferidos deste ano. E ninguém me vai mudar de ideias. Não é extraordinário? Não é a maior obra prima ao nível de um Orgulho e Preconceito ou Jane Eyre? Não é. Mas é um livro muito bem escrito, personagens com profundidade. Não há uma que não faça falta. Não há nada neste livro que seja feito de palha.

 

Para mim, é um livro sobre ser diferente num ambiente social feito de aparências e rigor. Sobre lutar contra uma sociedade racista, que estabelece que uma família ideal para uma criança é feita de mãe e pai com uma aparência dentro dos padrões. É sobre ser mãe solteira e independente. Ser mulher artista nos tempos modernos. É um livro sobre as dificuldades dos adolescentes em romper com os preconceitos estabelecidos pela sociedade. Com a sorte de existir uma Izzy, a ovelha negra. É um livro sobre as mães que abandonam as suas carreiras em prole de um papel ingrato, mas conformista. Sobre a questão do abandono, do arrependimento, do julgamento, herança cultural, das manobras para apagar fogos dentro e fora de casa. 

 

Livraço. Celeste Ng, amor para a vida.

 

O que ando a ler

 

 

 

Ando a ler quatro livros. Parei de empurrar com a barriga um calhamaço com mais 800 páginas e comecei a ler As Benevolentes, do Jonathan Littell. Que livro! Tem de ser lido aos poucos, ontem nem sequer peguei levei porque é como levar porrada e gostar. O tema é sensível, mas vale a pena. O livro de não fição da vez é Educar com Mindfulness, da Mikaela Óven. Estou a ler em conjunto com a Raquel. Acho que vou adorar e estou super empolgada. Numa leitura mais leve, comecei o livro Grandes Clássicos Para Jovens Leitores, vou lendo um ou dois contos por dia. Estou curiosa para saber o que fizeram com o clássico Moby Dick. O livro que comecei hoje foi Conversa entre Amigos, da Sally Rooney e já li quatro capítulos. 

 

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