ALÇAPÃO | JOÃO LEAL
Data: 2011
Editora: Quetzal
Sinopse
Quando Rodrigo chega a S. João, percebe que vai ter de crescer depressa se quiser sobreviver ao violento código que rege a vida dos órfãos. A aparição de um novo e pouco ortodoxo padre traz-lhe uma visão de esperança que promete mudar tudo. Mas uma maldição familiar emerge do passado. Uma série de assassínios brutais vai arrastá-lo, a ele e a Jorge, o seu único amigo, para um lugar sobrenatural escondido atrás de um misterioso alçapão.
Há séculos à deriva, os habitantes de Lothar, a ilha flutuante, pensam que são os únicos sobreviventes do Grande Dilúvio. No centro da ilha, numa árvore gigantesca, vive um anjo caído que é o seu deus. Um acontecimento, contudo, vai agitar o quotidiano e levar a que dois deles decidam partir.
João Leal, nesta sua homenagem plena de imaginação às histórias de aventuras, faz com que as duas narrativas, tão distantes no tempo, se encontrem num momento decisivo para a história da humanidade.
Opinião
Se leram a sinopse percebem que têm uma sinopse um bocadinho invulgar. O livro está dividido em duas partes. A primeira é uma narrativa muito crua, até dolorosa, entre violência e maus tratos entre crianças que estão numa espécie de sobrevivência dentro do colégio de São João.
Logo nas primeiras páginas o momento descrito fez-me chorar. Estou mais sensível, mas juro que começa de uma forma que despedaça o coração de qualquer um. E aqui, o autor faz referência à violência doméstica e a tantas famílias disfuncionais neste país. Outros temas, como a divindade, a música, a fé, a solidão, os laços familiares são colocados de forma muito subtil. Quase não damos por eles, mas estão lá.
O autor escreve de forma tão envolvente que uma pessoa não consegue parar. Queremos saber o que vai acontecer ao Rodrigo e descobrir em que tipo de adulto se vai transformar. E mais uma vez, surpresa, o autor dá a volta a tudo. O inesperado é realmente a palavra certa para descrever esta história. Ora estamos a ler um romance sobre um miúdo perdido, como logo de seguida estão num thriller entre mortes e investigação. Mas o melhor ainda está por vir. A segunda parte é tudo o que menos esperamos. E se a maioria não gostou muito da segunda parte, eu achei de uma criatividade abismal e só consegui fechar a boca de espanto mesmo no final quando as duas narrativas se ligam.
Bem, fica o aviso, este livro nunca será nada do que estás à espera mesmo quando estás à espera que seja um livro muito louco. Está a um preço absurdo de bom (5€). Tenho mesmo pena que autores como João Leal não tenham mais reconhecimento e popularidade dentro dos leitores, mas aqui fica a minha parte na sua divulgação. Obrigada ao Hugo que me dá sempre dicas fantásticas, não falha.
Recomendo muito.