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Qua | 04.07.18

A MORTE | MARIA FILOMENA MÓNICA

Cláudia Oliveira

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Data: Julho, 2011

Editora: Fundação Francisco Manuel dos Santos

 

Sinopse

É provável que eu morra nos próximos dez, quinze anos. Tenho filhos e netos, amei e fui amada, escrevi livros, ouvi música e viajei. Poderia dar-me por satisfeita, o que não me faz encarar a morte com placidez. Se amanhã um médico me disser que sofro de uma doença incurável, terei um ataque de coração, o que, convenhamos, resolveria o problema. Mas, se isso não acontecer, quero ter a lei do meu lado. Gostaria que o debate sobre as questões aqui abordadas, o testamento vital, o suicídio assistido e a eutanásia, decorresse num clima sereno. Mas teremos de aceitar a discussão com todos os opositores, mesmo com aqueles que, por serem fanáticos, mais repulsa nos causam. Que ninguém se iluda: a análise destes problemas é urgente.

 

Opinião

"Em 1968, um grupo de peritos reuniu-se na Faculdade de medicina de Harvard para repensar no conceito  morte. Com base no critério de ser o cérebro o órgão que define uma pessoa, passou-se a declarar morto qualquer individuo que evidenciasse sinais de paragem cerebral. A decisão foi pacifica, uma vez que a Igreja Católica não se opôs à definição. "

 

O tema é pesado, mas a escritora consegue colocar uma leveza e aquela sensação descomplicada em relação ao assunto. Pensava que ia ficar com um peso enorme nas costas depois de ler este livro, mas pelo contrário. É retratado de forma muito sensível e fez-me refletir bastante sobre as mortes ingratas e tristes nos hospitais portugueses. Parece que a taxa de mortes em hospitais aumentou significativamente ao longo dos anos. 

 

Neste livro, a autora fala na primeira vez que teve contacto com a palavra morte. Acho que também aconteceu o mesmo comigo. Na catequese ou na disciplina Religião e Moral, falam bastante no inferno e no céu como duas opções para a morte. Lembro-me de questionar bastante a professora sobre este assunto e nunca aceitar as palavras como certezas absolutas. Assim como a autora deste livro. Mais tarde, Maria Filomena Mónica é confrontada com a doença de Alzheimer da mãe e a sua morte. Tudo o que ela escreve é de uma sinceridade incrível e alguma comoção. 

 

"...o que sentia não era tristeza, mas alívio. Isto pode parecer - e é-o - difícil de admitir, mas é o que sucede a quem tem pais com doenças psíquicas prolongadas. Os onze anos, em que assistira a uma mente brilhante deteriorando-se, haviam-me conduzido ao desespero."

 

A forma como a sociedade lida com a morte tem vindo a mudar bastante. Os rituais mudaram, assim como a maneira como falamos na morte. Através de várias referências literárias e casos reais somos levados a questionar sobre a eutanásia. Também nos é dado factos sobre a forma como o Estado trata o envelhecimento prolongado.

 

De todas as histórias relatadas neste livro, a mais marcante é a história de amor de dois velhinhos que ocorreu em 2011. Ela com 89 anos, ele com 85. É caso para dizer, "felizes para sempre, até que a morte os separe". Muito comovente. E mais uma vez levamos uma chapada da realidade. 

 

Recomendo muito este livro. É sem dúvida uma leitura completa, que nos vira do avesso e nos mete a refletir sobre a eutanásia, morte, e consequentemente, vida. Escrito de forma bastante acessível e envolvente. Não deixem de ler esta pechincha de livro (custou-me menos de 3,50€) pertencente à editora Fundação Francisco Manuel dos Santos. Tem títulos fabulosos que não me canso de recomendar. 

 

Outro livro sobre o tema, é o romance de Tolstoi, A Morte de Ivan Ilyich. Referido neste ensaio, li há uns anos e foi uma leitura absolutamente marcante. Também recomendo.

 

Saio desta leitura com a certeza que quero ler mais livros desta notável escritora.