YOUNG ADULT NO MEIO DA POLÉMICA
Tenho um projeto este ano, ler um Young Adult por mês. Ou seja, livros destinados ao público jovem. Primeiro, porque gosto. Segundo, porque acho interessante ver o mundo com uma perspetiva diferente (dos jovens que um dia os meus filhos serão). Terceiro, os assuntos são sempre atuais, consigo acompanhar o mundo (os seus preconceitos e mudanças).
Já saí muito surpreendida, desiludida, e apesar de todos os preconceitos existentes em relação ao género, tem sido um projeto que tenho feito com muito gosto. Não acho de todo que os livros para jovens adultos sejam pouco profundos ou desnecessários. Acho que têm um papel importante para criar novos leitores e trazer assuntos necessários. A narrativa é apelativa e prende, marcada pela diversidade e representatividade. Facilmente os jovens sentem representados os seus dramas, questões e paixões.
Os meus filhos são muito pequenos, mas a minha irmã é uma jovem leitora. Foram os livros Young Adult que a apaixonaram. Primeiro Divergente, depois Os Jogos da Fome. Ver o seu entusiasmo com os livros é maravilhoso. Também a incentivei bastante nos primeiros passos como leitora. Durante as férias ela devorou vários livros. E quando chega a Feira do Livro ela já tem uma lista de desejos preparada. Tivesse eu dado um Saramago ou um Eça para as suas mãos talvez tivesse destruído uma paixão antes de começar. Toda a gente sabe quem vence entre as séries televisivas e os livros.
Sempre que vou a eventos literários noto um julgamento por parte dos escritores portugueses. E apesar de os amar de coração, não consigo entender quem julga um público que desconhece. Os leitores de literatura portuguesa contemporânea não podem ser os mesmos leitores de best sellers e young adult? Os leitores de young adult não podem ser leitores de clássicos? Estamos restringidos a estereótipos? Livros com qualidade não podem ser best sellers?
“Livros que não provocam nada no leitor não são literatura, são outra coisa qualquer”, dizia uma jornalista num evento em que estive presente. E eu fiquei a pensar naquilo. Já li clássicos que não me fizeram pensar, nem senti uma réstia de emoção. Já li literatura contemporânea adulta que não me disseram nada. Já li best sellers que me fizeram chorar ou sentir um murro no estômago. “A Vida de Pi”, “A Rapariga que Roubava Livros”, “Eleanor & Park”, “O Ódio que Semeias” são alguns exemplos.
Leitores julgam leitores. Há uns tempos vi um vídeo de uma pessoa que dava a opinião dela em relação a um livro de uma escritora muito querida (e aí tudo bem, cada um com os seus gostos), mas ela não falava apenas da obra, ela menosprezava os gostos literários das pessoas que falam bem da autora em causa. Só faltou dizer o nome da pessoa em causa. Ter uma opinião em relação a determinado livro é natural. Criticar as escolhas dos outros leitores é pretensiosismo. Lemos o que quisermos, o que nos apetece e não somos leitores inferiores a ninguém. O que vamos respeitar se não respeitarmos as escolhas literárias dos outros?
Eu leio de tudo. Leio imensos livros de autoajuda, hoje chamam de desenvolvimento pessoal para atenuar as coisas, li Paulo Coelho, Margarida Rebelo Pinto, Crepúsculo, 50 Sombras de Grey. Já recebi vários comentários com julgamento em relação às minhas escolhas. Acabaram por desaparecer depois do vídeo em que falei no assunto.
No meu último vídeo sobre perguntas e respostas, abordei um bocadinho a minha opinião em relação à evolução de leitores. Não acredito muito nisso da evolução dos leitores. Ups. Normalmente não concordam com a minha opinião, e levam a mal quando afirmo: “nem todos evoluem”. Acredito em leitores de fases. Acredito no desenvolvimento de critérios que desenvolvem o teu gosto pessoal. Li muita literatura clássica quando era pequena, assim como literatura contemporânea para adultos. E segundo os especialistas, a evolução natural seria continuar a ler clássicos (Ulisses, Moby Dick, Dom Quixote). Mas eu passei a ler fantasia, thrillers e romances contemporâneos. Se calhar, recuaste na evolução. Não, continuo a ler clássicos. Pois. Leio conforme a fase da vida em que estou. Conforme a minha curiosidade por determinado livro. Ou simplesmente porque sou influenciada por opiniões alheias.
Esta semana, houve uma polémica com uma empresa de experiências de distribuição de livros no Brasil, a TAG Experiências. A dita empresa enviou por e-mail para os subscritores a explicação das duas ofertas disponíveis: livros que não fazem pensar e nada profundos vs livros com qualidade e profundos. Best sellers vs clássicos. Mas toda a gente sabe que existem Clássicos YA e Clássicos Best Sellers. Fiz uma lista há uns tempos por aqui. Não faz muito sentido esta discussão, né? A polémica gerou vários posicionamentos contra a empresa. Várias vozes se levantaram para defender os young adult, o que me deixa muito feliz. Vi várias listas e apoiantes no Youtube. Unidos jamais serão vencidos. Vocês também viram? Entretanto, a empresa já alterou tudo, mas ainda não se pronunciou sobre o assunto.
Na verdade, este texto era para ser a minha opinião do livro Mirror Mirror, de Cara Delevingne. Terá de ficar para outra altura. Uma coisa levou à outra e dei por mim a escrever sobre preconceito literário. Continuo a afirmar que a literatura clássica é necessária e deve ser incentivada (Clube dos Clássicos Vivos). No entanto, prefiro que a literatura ande de mão dada com o entusiasmo. Seja ele qual for.