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amulherqueamalivros

Ter | 03.04.18

11 COISAS QUE APRENDI COM UM BLOG/CANAL LITERÁRIO

Cláudia Oliveira

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Já lá vão alguns anos nestas andanças. Desde 2003 que mantenho blogues na minha vida. Sempre tive diário. Quando surgiram os primeiros blogues tive de criar um. Ter feedback dos meus escritos? Maravilha. 

 

Nos primeiros anos criei verdadeiros laços, fiz amizades, conheci pessoas do Norte. Até escrevi um livro a quatro mãos. Brincava, não tinha filtros e era tudo muito divertido. Desde essa altura tive mais de vinte blogues. Juro. Mas isso acabou. Estou mais do que satisfeita com este blog.

 

Se sinto saudades de expandir a criatividade com outros textos? Sim. E isso vai mudar brevemente. Aprendi bastante ao longo dos anos com as partilhas literárias.  Alguns pontos vão ser desmitificados. Tudo num tom carinhoso e sem opressões.

 

Se estás a pensar criar um blog/canal literário este texto é para ti.

 

Respeitar opiniões diferentes

No inicio ficava aborrecida quando encontrava opiniões negativas posteriores à minha. Sem lógica, né? As experiências de leitura são muito pessoais e os gostos particulares. Para além disso, a nossa caminhada literária é muito diferente. Talvez ainda fique triste com pessoas que dizem “Saramago não sabe escrever” sem terem lido um parágrafo. Dizer “não gosto” é diferente de “não sabe escrever”. São os argumentos que fazem a opinião de livro. E ninguém é dono da verdade absoluta. Agora quando leio opiniões negativas reparo nos argumentos e sorrio. Uma coisa é a opinião, outra é o valor da obra. Que bom! A literatura mexe com todos de forma tão diferente.

 

Não tenho preconceitos literários

Leio de tudo. Livros de autoajuda, YA, fantasia, poesia. Deixei de sofrer preconceito literário há uns anos com ajuda de um dos meus canais literários preferidos, Cabine Literária. Desapareceu, né? Agora sigo a Tatiana, ex colaborada do Cabine, que faz o mesmo no seu canal com o Guto. Eu não imponho regras a mim mesma e raramente julgo um livro pelo seu género. Talvez um bocadinho pela capa. Só tenho um pequeno problema com os livros do Pedro Chagas, mas experimentei, para dizer que não são de facto a minha onda. Assim como os livros do 50 Sombras. Os limites não trazem vantagens para o crescimento pessoal. Claro que tenho o meu gosto particular, sei o que me agrada à partida, mas não é por isso que rejeito uma história. Fui surpreendida várias vezes por ter largado a mochila do preconceito.

 

É tão bom conhecer as pessoas dos livros

Claro que já tive algumas experiências menos positivas. Conheci algumas pessoas que não corresponderam de todo ao que imaginava. Deve ter acontecido ao contrário também. Algumas energias não se conectam e eu tenho um sexto sentido que raramente me engana. Ao longo destes anos, nunca imaginei conhecer tantas pessoas que gostam de ler. Achava impossível falar de livros com os outros, ter um clube literário. E ao contrário do que receava, é maravilhoso. Os encontros do Clube dos Clássicos Vivos têm superado todas as minhas expetativas.

 

A mesma pergunta de sempre

Recebo várias vezes por semana a mesma pergunta de sempre, “como é que lês tanto?”. As pessoas desconfiam porque não conseguem. Esquecem-se que eu leio há muitos anos, todos os dias e que ganhei um ritmo mais rápido. Mas eu respeito sempre o ritmo da obra. Nunca combato isso. Também conheço quem leia mais rápido do que eu, a Sónia lê muito mais rápido e nunca duvidei dela. Eu leio muito, raramente vejo séries de enfiada e priorizo a leitura. Ao contrário do que possam pensar eu tenho vida para além dos livros, mas a minha vida também é a literatura.

 

Não sou influenciada por opiniões alheias

No inicio a minha opinião sofria influência do que lia, via e escutava. Ao longo dos tempos, passei a controlar os meus impulsos em relação às minhas compras. As expetativas aumentavam com opiniões alheias, mas acabava desiludida em várias situações. Também deixava de comprar alguns livros ou adiar leituras devido a opiniões muito negativas. Esquece, depois acabavam por ser grandes surpresas e transformavam-se nas minhas leituras preferidas. Não sofro mais com isso. Leio por conta própria e risco, não compro livros atrás de livros influenciada em vídeos alheios. E tanto faz as prateiras bonitas dos vizinhos. Sou mais cautelosa, oiço o meu instinto. Continuo a escutar a opinião de algumas pessoas (é essa a magia dos blogues/canais literários), mas dou preferência às pessoas com os mesmos gostos. Passei a ficar menos frustrada. A ler mais de acordo com o meu momento enquanto leitora.

 

Muitos projetos e desafios

Isto acaba por ser uma comunidade. Surgem desafios e projetos mensalmente por todo o lado. Eu também criei os meus desafios e projetos, e participo sempre nos que mais gosto. Acabamos por aumentar a lista de desejos, trocar impressões. É muito bom. Existem blogues e canais literários para todos os gostos.

 

Está tudo bem

Existem momentos sem vontade de ler? Está tudo bem. O stress que algumas pessoas colocam em cima delas é tão desnecessário que acaba por prejudicar a experiência de leitura. Tantos vídeos sobre “não consigo ler”, como se ler fosse uma obrigação. Tive um momento em que senti isso. Quando comecei com as parcerias sentia-me pressionada para responder a todas. Culpa minha, porque nunca ninguém me pressionou a nada. Com o decorrer dos dias percebi que precisava de acalmar a alma. Leio o que quero, quando quero. E se tiver que escrever uma opinião negativa vou escrever, desde que tenha argumentos para isso. Está tudo bem. Não vale a pena colocar peso nas costas em algo que deve ser agradável. Sobretudo porque em Portugal são raros os casos pagos dentro da comunidade do booktube (fora dele são vários) para fazer publicidade. Nesse caso, a pressão é outra.

 

Sem mestres, por favor

Ninguém é um mestre das opiniões literárias em Portugal. Seja uma plataforma (youtube ou blogues) ou uma pessoa. Simplesmente existem pessoas que nos podem agradar mais do que outras. Seja pelo tom de voz, pela forma detalhada como escrevem ou pelos textos objetivos. Há gostos para tudo. Nunca te sintas receosa de começar um canal ou um blog porque nunca vais conseguir fazer isto ou aquilo. Não há formulas perfeitas para partilhar o amor pelos livros (exceto na cabeça de algumas pessoas). E aqui ninguém é critico literário. Somos amadores. Menos ego, please. Todas recebemos mensagens do tipo “li/comprei este livro por causa de ti”. E quando não recebemos, pode acontecer em silêncio.

 

Vão pedir contactos

Acho tão chato quando alguém me pede um contacto de editora para obter o livro X, sobretudo quando nem sequer faz da leitura um hábito. Pior quando nem um “olá”. Gosto de ajudar, e já dei algumas informações úteis porque achei que devia dar. Não me importo de partilhar, mas por favor, há limites.

 

Somos o único nicho que não é pago para fazer divulgação

Este ponto vai trazer-me alguns dissabores, mas alguém tem de falar sobre isto. Recebemos um livro, lemos e é essa a parceria entre as editoras e os bloggers. Já repararam nisso? Os outros nichos são pagos para publicar fotos, instastories e gravar vídeos. E nós? Nada. Mas eu conheço casos em que bloggers de moda são pagas para divulgar livros. Pois é. No resto do mundo, os booktubers com mais visibilidade são pagos. Talvez um dia a realidade em Portugal mude.

 

Não dá para viver dos blogues literários

Esqueçam. Podes criar produtos ou serviços ligados aos livros, mas vais precisar de trabalhar muito para isso. Só comecei a ganhar dinheiro o ano passado e ainda ando na luta todos os dias. Tivesse eu ficado pelos blogues de má língua, continuava a receber telemóveis ou bilhetes de espetáculos. Quando comecei este blog meu objetivo nunca foi esse, mas as oportunidades surgiram e eu aproveitei. Faço alguns trabalhos ligados à literatura e sou remunerada. Justo, não é? No entanto, está longe de ser algo consistente. Tenho muito trabalho pela frente.