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amulherqueamalivros

Ter | 12.09.17

"SWING TIME" | ZADIE SMITH

Cláudia Oliveira

 

Nunca é muito justo para uma escritora ser comparada a outra. Sobretudo a uma escritora com o sucesso de Elena Ferrante. E houve uma altura que muitos livros eram indicados para os fãs da escritora ou as autoras era chamadas de "próxima Ferrante". Talvez seja gratificante para alguns escritores, frustrante para outros. Para os leitores cria uma tendência, uma enorme expectativa quando o assunto é a sua escritora preferida. Foi exactamente isso que me aconteceu, mas felizmente soube separar o trabalho da Zadie Smith e ter uma gratificante experiência de leitura. 

 

Swing Time debruça-se sobre uma relação de amizade de duas meninas mestiças com talento para a dança e canto. Ambas com esferas familiares distintas e condições financeiras vão cruzar as suas vidas e criar uma ligação para a vida. Como ambas lutam por um lugar no meio artístico há competição e algumas situações envoltas em ciume.

 

É um livro com um ritmo muito próprio, com passagens marcantes. Emocionei-me varias vezes, a minha imaginação conseguiu ler este livro enquanto assistia a tudo da primeira fila tal é a escrita realista e crua da autora. Apesar de termos apenas o ponto de vista de uma das meninas, acabamos por conhecer todas as personagens de igual forma. 

 

O crescimento no corpo de uma menina, mais tarde mulher, enquanto tenta entender o mundo e o que a rodeia. A mãe, a maternidade é outro assunto muito abordado. Sem floreados, com toda a sinceridade do mundo. O mundo dos adultos enquanto uma menina em fase de crescimento. As respostas ao nevoeiro dos seus pensamentos em fase adulta que se juntam como peças. 

 

"Oh, é muito bonito e racional e respeitável dizer que uma mulher tem todo o direito à sua vida, às suas ambições, às suas necessidades, e por aí fora - é aquilo que eu sempre exigi - mas em criança, não, a verdade é que é uma guerra de atrito, a racionalidade não entra nas contas, nem um bocadinho, tudo o que queremos da nossa mãe é que reconheça de uma vez por todas que é nossa mãe e só nossa mãe, e que a sua batalha com o resto da vida acabou. Tem de depor as armas e dedicar-se a nós. E se não o fizer, então sim, é uma guerra de verdade, e entre a minha mãe e eu foi uma guerra. Só na idade adulta aprendi a admirá-la realmente..."

 

São mulheres, sobretudo mulheres lutadores e com objectivos marcantes como a igualdade. A mãe de uma delas é fantástica. Quer estudar e lutar pelos seus direitos e entrar na política. Também temos uma actriz de sucesso que vive uma vida completamente diferente daquilo que as aparências mostram. Uma mulher sofrida, solitária e com algum mau feitio. O único homem deste livro passa uma imagem miserável, com pobreza de espírito e algo amargurada.

 

Passagens sobre o sucesso, a amizade, as lutas, a ambição. A música sempre presente na arte do sapateado ou nos videoclips do Mickael Jackson. Adorei a descoberta do talento e os olhos vidrados de entusiasmo. Enquanto escrevo este texto fiquei com saudades das personagens, acreditam? Uma história cativante que me marcou de alguma forma. 

 

Recomendo. Voz própria, diferente e encantadora.