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Dom | 25.06.17

"A CONTRALUZ" | RACHEL CUSK

Cláudia Oliveira

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Rachel Cusk já é escreveu nove romances, mas só agora conheci o trabalho da autora com o primeiro livro de uma trilogia recentemente lançado pela Quetzal. Em 2003 foi escolhida pela Granta como uma das melhores jovens romancistas. Na altura tinha apenas 37 anos. Recebeu com este romance rasgados elogios pelos vários meios de comunicação e críticos literários. Foi finalista do Prémio Baileys em 2015.
 
'Se passar algum tempo a ler este romance, ficará convencido de que Rachel Cusk é uma das mais inteligentes escritoras vivas.'
New York Book Review 
 
Uma mulher viaja durante o verão até à Atenas para dar aulas de escrita criativa. Perante esta experiência conhece várias pessoas e recolhe outras histórias. São diálogos que mostram o que a maioria pensa e ninguém revela. Algumas mentiras e falsos moralismos. Várias verdades e cruéis revelações. 
 
Temos a nossa professora de escrita criativa debruçada sobre vários assuntos. Desde a escrita e as diversas formas de escrever. Várias referências literárias. Os pensamentos mais íntimos de quem passa por si ao longo da viagem e desabafa sobre os seus anteriores casamentos. De salientar que a protagonista passa por um processo de divórcio e está a renovar energias. Uma espécie de resumo, do que esteve recalcado ao longo do seu casamento. Mostra as feridas. Questiona qual a forma ideal para manter um casamento, um lar. Como é ser mãe,  como é recomeçar do zero. Uma experiência de perda que não dá para evitar numa situação dessas. 
 
Tem uma das passagens mais bonitas sobre a reconfortante sensação de paz. Entre um mergulho e uma visão sobre o sol e o mar. Já reli a passagem dezenas de vezes e consigo sempre sentir a plenitude daquelas palavras. 
 
Conviver é cada vez mais difícil. Encontrar pessoas interessantes passa a ser um jogo labiríntico. É preciso procurar, ir atrás. Quando tentamos forjar a nossa própria felicidade teremos um castigo dado pelo destino, como um alerta. Adoro a ideia que ela transpõe acerca do casamento. Não somos nunca nós mesmos,  há uma impossibilidade de descobrir por vivermos através de outra pessoa. Há diversas condicionantes alheias que afectam sempre a nossa forma de agir. 
 
A maternidade é outra tema abordado e que mexeu muito comigo. É impossível ficar indiferente às suas palavras sobre a sua mãe e os seus filhos. Foi um livro que me acrescentou. Deu aquele frio na barriga. Apoderou-se dos meus pensamentos. Sacudiu-me, mostrou-me que não estou sozinha. Há melhor missão para a literatura? Não creio. 
 
Anseios, absolutos anseios entre divagações e conversas interessantíssimas. Senti-me num barco, rodeada de boa bebida e excelentes conversas enquanto via o pôr do sol. Desejei ter amigos iguais às personagens. Senti-me ligada.
 
Livro esplendoroso. É um quadro gigante de vozes e pensamentos com pinceladas de realidade. Terminei e quis reler. Hoje quando escrevia este texto, reli várias passagens e perdi-me novamente. 
 
Por favor, anseio pelo segundo e terceiro. 
 

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