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Qui | 01.06.17

ENTREVISTA À AUTORA ANABELA MOTA RIBEIRO

Cláudia Oliveira

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 Foto de: Clara Azevedo

 

A primeira vez nunca esquecemos. Iniciamos em junho um novo espaço no blog "A Mulher que Ama Livros" dedicado às entrevistas breves e concisas, de forma a dar conhecer um pouco mais do trabalho feito em Portugal pelos nossos. Sempre foi um foco, "ler os nossos". Partilhar os nossos.

 

É um privilégio começar com uma autora portuguesa, talentosa, criativa e dinâmica. Fez rádio, é jornalista, coordena e modera debates sobre livros. Assina juntamente com o escritor Agualusa o programa da Feira do Livro do Porto (já viram o programa fabuloso para este ano?). O seu mais recente livro "A Flor Amarela" foi editado pela Quetzal em Fevereiro deste ano. Anabela Mota Ribeiro estará na Feira do Livro no dia 4 e 17 de junho. Foi um privilégio enorme fazer esta entrevista e conhecer um pouco mais a autora. Entretanto descobri que fiz o caminho ao contrário, devia ter lido "Memórias Póstumas de Brás Cubas" primeiro e a sua Flor depois.

 

 

A Feira do Livro de Lisboa está a chegar. Anabela Mota Ribeiro estará presente no dia 4 de junho. O que significa para si a Feira do Livro? Como olha para este evento? 


Gosto da Feira do Livro, gosto de espaços de encontro e descoberta, gosto de iniciativas que podem tocar públicos diversos, democráticas, gosto da misturada. Gosto, evidentemente, da possibilidade de comprar bons livros com preço especial, para mim e para oferecer. Vou estar a assinar livros em dois fins de semana: no primeiro, "Paula Rego por Paula Rego" e no domingo seguinte "A Flor Amarela - ímpeto e melancolia em Machado de Assis." 

 

A Feira do Livro do Porto dá aos leitores a possibilidade de conhecerem grandes estrelas como Han Kang, Laurent Binet e Teju Cole. Sente que ainda existe interesse dos leitores conhecerem e ouvirem os escritores?


Penso que o público tem uma grande apetência pelas conversas, pela possibilidade de diálogo, quer ser interpelado, ver com ouvidos, ouvir com o corpo todo. Ou seja, procura qualquer coisa que é única, diz respeito a um momento, a uma intensidade, qualquer coisa que implica aquele que assiste e o envolve com o corpo todo. De certa maneira, o virtual, a instantaneidade, o fragmento, nada disto rouba espaço às feiras do livro ou festivais literários. Eles complementam-se e potenciam-se.   

 

Existem livros que nos escolhem e outros que escolhemos. "Memórias de Brás Cubas" encaixa em alguma das situações? 


Li pela primeira vez MPBC na faculdade, numa disciplina de opção que fiz com o Prof. Abel Barros Baptista. Já tinha lido Machado, mas ele deu-mo a ler de outra maneira. O livro é uma constante escolha e um feitiço: somos agarrados por ele, lemos e lemos e nunca o achamos. Um clássico é também isso.

 

Ao ler "A Flor Amarela" fiquei deslumbrada e interessada no clássico. É sua intenção cativar novos leitores para Machado de Assis ao transformar o que começou por ser um trabalho académico de Filosofia neste livro?


Se houver pessoas a descobrir Machado de Assis a partir do meu livro, ou pelo que eu possa dizer sobre o autor, fico contentíssima. Lê-lo é um prazer imenso. Aliás, o que faz sentido é ler o livro do Machado e depois ler a minha Flor. Devo dizer que este trabalho académico mereceu mínimas alterações. A minha dissertação era heterodoxa... Procurei ler de um ponto de vista filosófico o livro. O meu lugar de partida era a Filosofia. Por isso também tive dois orientadores: um de Filosofia e outro de Literatura Brasileira, João Constâncio e Abel Barros Baptista, respectivamente.  

 

No seu blog disponibiliza várias entrevistas muito organizadas. O blog é reflexo da sua personalidade ou apenas uma ferramenta de trabalho? 


Talvez eu seja demasiado organizada (do estilo de pôr os cabides todos virados para o mesmo lado). O que me espanta é a possibilidade de viver na desordem e na sujeira (que são coisas diferentes, mas que aparecem juntas nesta minha mania). Por isso, sim, talvez esta organização que encontra no blog seja um reflexo da minha personalidade. O blog foi desenhado pelo Pedro Neves do Sapo a partir de conversas que tivemos e daquilo que lhe pedi. Ao mesmo tempo, o blog é apenas uma ferramenta de trabalho, uma expressão do que venho fazendo desde há uns anos. Gosto de pensar nele como uma casa onde está o essencial do meu trabalho; e eu, que não guardo nada, guardo tudo, afinal, ali.  

 

Já fez rádio, programas de televisão, coordena e modera debates de livros, é escritora e jornalista. O que lhe falta fazer? 


Falta sempre fazer tudo, não é? E falta tempo de digestão. As coisas precisam de tempo para ser pensadas, integradas, criadas. Faço essas coisas todas, às vezes todas ao mesmo tempo, mas acredito cada vez mais na importância do vazio, de não fazer nada, de não entender, de isso ser um motor para voltar a fazer tudo outra vez. 

 

"Se houver pessoas a descobrir Machado de Assis a partir do meu livro, ou pelo que eu possa dizer sobre o autor, fico contentíssima. Lê-lo é um prazer imenso."

 

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