Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

amulherqueamalivros

Qua | 04.01.17

"A Outra Metade de Mim" | Affinity Konor

Cláudia Oliveira

DSC01484.JPG

 

 Este livro desfez o meu coração em mil pétalas. 

 

Contado na primeira pessoa pela gémea Stasha, uma menina com muita imaginação, descreve horrores vividos em Auschwitz pela visão ingénua de uma criança. A sua irmã Pearl é metade de si. A ligação entre as duas é forte e inquebrável. Estariam juntas para o pior. Depois da mãe partir, ambas são deixadas ao cuidado de um homem vestido de branco para vários testes e experiências. Diz que Auschwitz tinha um lugar especial para os gémeos e que eles eram muito preciosos. 

 

Este livro deixou-me boquiaberta com a capacidade da escritora californiana em transmitir com delicadeza as atrocidades que as crianças passavam no campo de concentração durante a segunda guerra mundial. Reli algumas passagens de tão belas e cruéis. 

 

"...Porque devíamos ter visto os que amávamos desaparecerem, devíamos ter podido vê-los deixarem-nos, devíamos esquecer o momento exacto da perda. Se ao menos tivéssemos visto as suas caras voltarem-se, um olhar breve, a curva de uma face! Uma cara a voltar-se...nunca nos dariam tal coisa..."

 

Stasha acreditava ser a guardiã do tempo e da memória. Queria registar todos os seus dias. Ela vê a sua vida mudar quando acontece o pior com a sua irmã. Enquanto a imaginação a ajuda a salvar-se no meio do inferno, ela buscar acreditar e vive no seu mundo de esperança e papoilas. As papoilas são flores importantes para a Stasha. Não vos revelo o motivo. Acreditem que a capa foi muito bem escolhida. 

 

A maldade da humanidade está descrita nesta história. O pior que o ser humano consegue fazer aos da sua espécie quando não aceitam as diferenças. O mal não nos torna mais fortes, pelo contrário. "É um erro popular". É um livro triste, cheio de morte. Fiquei várias vezes envolvida pela melancolia das palavras. O meu pensamento não deixava estas crianças quando pousava o livro. 

 

É um dos livros sobre o Holocausto mais difíceis de ler. Pela crueldade e pela lentidão dos acontecimentos. Misturar as duas características fez desta experiência de leitura profunda e intensa. Não é um livro para agradar a todos. De certo, não agrada à maioria. Eu fiquei fascinada.

 

Fiz várias marcações, reli passagens e a história ainda está em mim. Claro que recomendo. De preferência, leiam devagar.