"A Sul de Nenhum Norte" | Charles Bukowski
Charles Bukowski não é um autor que agrade a todos. Aliás, não agrada à maioria devido à sua postura politicamente incorrecta. Ele escreve sobre o lado feio da sociedade. Dá voz aos que não sonham, viciados, vazios e sem rumo. Escreve de forma crua e sem problemas em chamar as coisas pelos nomes. Tem passagens provocatórias, sem esconder a realidade. Charles Bukowski provoca sentimentos pouco agradáveis com os seus contos.
"Tinha barba negra, um olho do cu imundo e radiosos dentes amarelos."
"Carl arriava o calhau quatro ou cinco vezes por dia. Não tinha mais nada para fazer."
"A Sul de Nenhum Norte" reúne vários contos publicados em revistas e jornais na década de 60 e 70. Encontramos também o seu alter ego, o Chinaski. Já tinha saudades. Os textos acabam por ser na maioria autobiográficos. Histórias onde o álcool é companheiro e a escrita o seu trabalho. Mulheres, muitas mulheres e sexo. Solidão, vazio e tristeza. Nada neste livro é feliz apesar de recorrer à ironia. É feita uma critica à sociedade, aquela que corre atrás do sonho americano, vive uma vida de aparência e valores morais que não corresponde aos seus actos.
O meu conto preferido é aquele que serviu de capa para este livro. Um homem a segurar um manequim. Neste conto, o homem faz sexo com o manequim e diz que o ama. Nele está a revelar os seus sentimentos a uma mulher. Ela está incrédula. O conto transmite muito bem o sentimento de solidão do homem. No final fica o silêncio. Incomoda.
Gosto de ler os livros de Bukowski, o meu preferido do autor publicado pela Alfaguara é "Hollywood". Mostra a postura do autor em relação à fama e ao sucesso. Aliás, mais do que a sua escrita gosto da forma como Charles Bukowski não tinha problemas em assumir e defender os seus ideais. Mesmo remando contra a maré.
livro cedido pela editora