Gosto do Tim Burton, mas este filme mostra um Tim Burton desleixado. Não conseguia imaginar outro realizador para este filme, mas fiquei extremamente desiludida. Ele conseguia fazer melhor.
Não li o livro, mas nem está em questão se é fiel ou não. Interessa se o filme é bom, não é verdade? O filme é medíocre. Cenas clichés atrás de cenas clichés. Tem gráficos bons, fotografia bonita e felizmente tem o Samuel L. Jackson para salvar alguns momentos.
Vamos aos actores. Faltou emoção em todos eles (excepto ao Samuel L. Jackson). Desde actores sempre com a mesma expressão, apáticos a olhares profundos numa tentativa falhada. Aquela Miss Peregrine foi um erro de casting. É tudo tão mecânico ( e não estou a falar nos relógios). Os poderes das crianças só foram usados quando alguém se lembrou que tinham poderes. No final, claro. Podia ter sido mais cedo, certo? A história não me convenceu nada! Tentativa de ser muito peculiar, mas acabou por ser vulgar.
Situações curiosas: num momento a moça levita e consegue segurar-se nas folhas. Noutro momento, precisa de uma corda. Depois está descalça na praia, mas logo a seguir já tem as botas de chumbo outra vez. Pormenores que fazem toda a diferença. E aqueles dois gémeos todos enrolados? O poder deles não necessita que estejam assim. Para não falar na rapariga que usa luvas porque as mãos dela aquecem muito, mas não derretem as luvas. E aquele que tinha meia dúzia ( ou mais) de corações nos bolsos para usar em momentos muito convenientes?
Só houve um momento em que fiquei surpreendida. Um. Mas tenho uma boa noticia no meio disto tudo: não li o livro e a companhia era boa.
Um ano depois do prémio Pulitzer li o livro Toda a Luz Que Não Podemos Ver, do autor Anthony Doerr. Um livro com a temática das minhas preferências (Segunda Guerra) e com uma personagem que me despertou a curiosidade: Marie Laure, uma menina cega.
No geral, gostei do livro, mas sei que um dia mais tarde vai acabar por ficar no fundo da minha lista de "livros na segunda guerra" e não vou recomendar a muita gente. O livro é bem escrito apesar de repetir inúmeras vezes as mesmas palavras. Cada capitulo, curto (felizmente!) dá o ritmo que o livro perde no estilo da narrativa. Frases curtas, secas, descrições absolutamente bizarras.
Os personagens são bem construidos. São os coitadinhos da Segunda Guerra. Um jovem, órfão, na Juventude Hitleriana. Uma menina cega. Um homem com uma doença grave. Tanto sofrimento num livro já por si no pior dos cenários. Adoro a forma como se cruzam.
O livro não foi escrito para agradar às massas, pelo contrário. O autor não puxa à lágrima forçamente como outros romances. Não é a história que todos estão à espera que seja, e isso é bom. É a história passada na segunda guerra mais original de todas.
Os meus capítulos preferidos são dedicados à menina cega. Muito visual. Acho que o autor se superou na forma como consegue captar as sensações da própria personagem. Tirava a tendência para os elementos mágicos que me irritou solenemente. Mas lá está, em momentos de sofrimento todos procuramos onde nos agarrar. O final, no geral, não me agradou.
Acho que a história foi desnecessariamente alongada, alguns capítulos não acrescentaram nada à história. Foi difícil ter uma ligação emocional às personagens. Contudo, as últimas duzentas páginas agradaram-me, a história acabou por ter algumas reviravoltas e a delicadeza da escrita do autor conquistou-me.
Não é um livro banal sobre a segunda guerra. Nesta leitura, acabei por aprender outros detalhes que eu desconhecia. Aprendi bastante.
"Fechar os olhos em nada nos faz adivinhar o que é a cegueira"