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amulherqueamalivros

Qua | 27.04.16

Os Meus Desacontecimentos | Eliane Brum

Cláudia Oliveira

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No Goodreads

Minha pontuação: 4*

 

Eliane Brum ainda não foi publicada em Portugal, mas devia. Apaixonei-me pela escrita dela o ano passado com o romance Uma Duas. Aviso para quem for ler Uma Duas: é um livro visceral, capaz de mexer com as entranhas. Este pequeno Os Meus Desacontecimentos é denso, foi ao meu baú de memórias apagadas. Permitiu-me descobrir que as memórias não são apagadas, são guardadas até alguém mostrar que ainda estão podem ser salvas.

 

Neste livro encontramos pensamentos muito pessoais da autora em relação à vida, à família, à descoberta dos livros e amor pela escrita. As pessoas mais importantes no seu percurso até chegar a este livro e ser a mulher que é. A morte que entrou na sua vida tão cedo, agarrou na sua irmã e levou-a. 

 

"Esta irmã, que era um túmulo no cemitério, um túmulo que ninguém da família conseguia fechar, muito menos eu, havia me roubado a casa, o sol, as roseiras, a luz. Passeia a infância pedindo ao meu pai que plantasse roseiras, mas já não havia onde. Percebo agora que nunca perguntei ao meu pai como era ser um homem sem rosas. Como é, pai, como é ser homem sem rosas?"

 

A relação que ela tem como as palavras é fascinante e encanta-me. É muito parecida com a minha forma de olhar para a literatura. Identifiquei-me muito com a Eliane Brum. Segue uma passagem que pode falar por si mesma.

 

"...passei a me trancar no quarto com três ou quatro livros. Não queria brincar, não queria comer, não queria dormir. Eu queria ler. Se me obrigavam a sentar à mesa para o almoço, eu ficava me repetindo a última linha lida, temerosa de perdê-la numa colherada de feijão e, com ela, a chance de desembarcar na linha seguinte. 

O lugar na realidade se inverteu. A paisagem dos livros era real. A vida concreta era sonho. Eu me movia por ela e fazia o que esperavam que fizesse, mas eu não estava ali. Estava lá. Era jovem, era velha, heroína, aventureira, princesa, fada, bicho, planta, sereia, monstro, deus. Estava nas terras altas da Escócia, no centro da Terra, em bosques povoados por bruxas e duendes, no sítio do Pica-Pau Amarelo, em Valhala. Eu podia escolher quem ser e onde estar. "

 

Um dos meus capítulos preferidos é quando ela fala numa livreira que passou na sua vida e a fez descobrir o amor pela leitura. Sempre entram na nossa vida pessoas que são uma peça fulcral em algumas decisões. Na altura não percebemos como são importantes. 

 

Este livro é maravilhoso. É uma das minhas autoras brasileiras preferidas. Vou ler tudo da Eliane Brum. Recomendo, claro.