De 5 em 5 + Leituras em Andamento (11)
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Minha pontuação: 4*
Eliane Brum ainda não foi publicada em Portugal, mas devia. Apaixonei-me pela escrita dela o ano passado com o romance Uma Duas. Aviso para quem for ler Uma Duas: é um livro visceral, capaz de mexer com as entranhas. Este pequeno Os Meus Desacontecimentos é denso, foi ao meu baú de memórias apagadas. Permitiu-me descobrir que as memórias não são apagadas, são guardadas até alguém mostrar que ainda estão podem ser salvas.
Neste livro encontramos pensamentos muito pessoais da autora em relação à vida, à família, à descoberta dos livros e amor pela escrita. As pessoas mais importantes no seu percurso até chegar a este livro e ser a mulher que é. A morte que entrou na sua vida tão cedo, agarrou na sua irmã e levou-a.
"Esta irmã, que era um túmulo no cemitério, um túmulo que ninguém da família conseguia fechar, muito menos eu, havia me roubado a casa, o sol, as roseiras, a luz. Passeia a infância pedindo ao meu pai que plantasse roseiras, mas já não havia onde. Percebo agora que nunca perguntei ao meu pai como era ser um homem sem rosas. Como é, pai, como é ser homem sem rosas?"
A relação que ela tem como as palavras é fascinante e encanta-me. É muito parecida com a minha forma de olhar para a literatura. Identifiquei-me muito com a Eliane Brum. Segue uma passagem que pode falar por si mesma.
"...passei a me trancar no quarto com três ou quatro livros. Não queria brincar, não queria comer, não queria dormir. Eu queria ler. Se me obrigavam a sentar à mesa para o almoço, eu ficava me repetindo a última linha lida, temerosa de perdê-la numa colherada de feijão e, com ela, a chance de desembarcar na linha seguinte.
O lugar na realidade se inverteu. A paisagem dos livros era real. A vida concreta era sonho. Eu me movia por ela e fazia o que esperavam que fizesse, mas eu não estava ali. Estava lá. Era jovem, era velha, heroína, aventureira, princesa, fada, bicho, planta, sereia, monstro, deus. Estava nas terras altas da Escócia, no centro da Terra, em bosques povoados por bruxas e duendes, no sítio do Pica-Pau Amarelo, em Valhala. Eu podia escolher quem ser e onde estar. "
Um dos meus capítulos preferidos é quando ela fala numa livreira que passou na sua vida e a fez descobrir o amor pela leitura. Sempre entram na nossa vida pessoas que são uma peça fulcral em algumas decisões. Na altura não percebemos como são importantes.
Este livro é maravilhoso. É uma das minhas autoras brasileiras preferidas. Vou ler tudo da Eliane Brum. Recomendo, claro.
Minuto Leituras em Andamento: 11:50
Minha pontuação: 4*
A portuguesa Ana Cássia Rebelo tem um blog intitulado Ana de Amsterdam. Em Fevereiro de 2015 foi lançado um livro com o mesmo título que reúne vários textos do blog escritos entre 2006 a 2014. O título escolhido é também o nome de uma conhecida música de Chico Buarque. O registo é bastante intimo, melancólico e surpreendentemente divertido.
Este livro foi uma grande surpresa, devorei até ao fim. É uma narrativa cativante, cheia de pormenores e temas acutilantes. Não há filtro na forma como a autora expressa aquilo que sente em relação à vida e às pessoas. Ela sofre de depressão, pensa várias vezes na morte e não esconde nada ao leitor. Temas tabus são abordados de forma natural. Nunca li textos tão transparentes sobre a frigidez, o suicídio e masturbação como encontrei neste livro. Ela não encaixa nos padrões normais impostos pela sociedade e não esconde.
A única coisa que me incomodou ao longo do livro, e por isso não entrou para a lista dos meus livros preferidos, foi a forma rezingona e mesquinha com que a autora fala de outras pessoas. Ela só gosta das pessoas que lhe são muito próximas ( que bonita homenagem!) e não gosta das pessoas em geral. Encontra defeitos nos desconhecidos e transporta isso para as suas frustrações.
Prometo que vão acabar por identificar-se com alguma passagem. Um livro para ler de mente aberta. Gostei imenso! Leiam, leiam. Esta mulher escreve muito bem, queremos mais!
Minha pontuação 4*
Gostei bastante do livro da autora brasileira Maria Valéria Rezende. Foi super recomendado por pessoas a quem dou crédito e confio. E claro, não me desiludi. Li-o no telemóvel, infelizmente não está editado em Portugal.
Alice estava sossegadinha na sua vida em João Pessoa até ser obrigada pela filha para ir viver para Porto Alegre para assumir um papel que ela não quer vestir: ser avó. No entanto, quando está instalada tudo muda de rumo devido a uma reviravolta. Mais tarde, vê-se à procura de um rapaz que ela nem sequer sabe se existe. É na rua que Alice volta a sentir-se livre.
É divertido acompanhar as peripécias e desabafos da protagonista. É original a forma como Alice desabafa para um caderno com a figura de uma Barbie na capa e muitas vezes a confronta a boneca com a estupidez. É uma personagem muito cativante apesar de estar na maioria das vezes zangada com a vida, é bastante refilona. Acho interessante entrar na cabeça de uma mulher que não quer viver conforme as regras ditas normais da sociedade e que se sente reprimida por isso.
É um livro que se lê bastante bem, com uma narrativa divertida e fluida. Gostei mais da primeira parte e menos da segunda, mas no geral é um livro que me abriu o apetite para ler mais obras da autora.
Um livro para quem escrevia no diário na adolescência e brincava (ou sonhava) com Barbies na infância.