Da mesma forma que gosto de comer alimentos diferentes ao longo do dia, eu gosto de ler histórias diferentes conforme o meu estado de espírito. Da mesma forma que não vejo a mesma série por dias seguidos, eu gosto de ter várias opções literárias à minha espera. Eu leio vários livros ao mesmo tempo. Às vezes, leio apenas um. Na maioria das vezes, leio vários.
Não confundo as histórias, nem troco o nome dos personagens. Costumo fazer assim: um livro leve, um livro mais profundo/extenso (um clássico, um calhamaço,...) e um ebook (às vezes, é o mesmo que o livro profundo/extenso). Costumo ter três leituras em andamento. Cheguei a ter quatro leituras em andamento, com um livro de ensaios/crónicas/não ficção na lista.
O livro leve leio no café, nas filas de espera, nas viagens de carro. O livro profundo/extenso leio em casa, quando está tudo sossegado ou antes de dormir. O ebook é para aqueles momentos em que não posso acender a luz ou quero avançar com o livro profundo/extenso, mas devido ao peso do livro físico ele é substituído pelo Kobo. O livro de crónicas/ensaios/não ficção é para quando quero ler algo num curto espaço de tempo. Normalmente, demoro para terminar.
As vantagens em ler vários livros ao mesmo tempo são: Nunca fico parada nas leituras. Nunca tenho aquela sensação de "o livro é chato, não vou voltar a ele", o que podia muito bem fazer com que eu evitasse ler e procurar ver um filme. Nunca acontece. Nem sofro de ressaca literária. Às vezes, o problema é o livro, somos nós. Não me obrigo a ler um livro triste em dias deprimentes. Ou vice-versa. Pode dar cabo da nossa opinião em relação a um livro fantástico.
O mundo fica mais interessante! Um bocadinho de cada vez, em vez de um livro chato de uma só vez. Porque há livros para ler devagar, outros para nos fazerem companhia em salas de consultório e ainda outros para nos embalarem. Como os amigos. Há sempre aquele amigo com quem preferimos ir às compras, não é verdade?
Os meus truques:
Gosto de ler livros completamente diferentes. Escolho assuntos diferentes.
Faço escolhas mediante os meus projectos literários.
Tento escolher autores com nacionalidade diferentes.
Escolho sempre a próxima leitura conforme o meu estado espírito.
Se um livro estiver a ser chato ou arrastado equilibro com um livro com uma narrativa rápida e divertida.
Anoto os livros que estou a ler na minha agenda. Falo sobre eles com outras pessoas.
Termino sempre os livros. Só abandono um livro quando estou a odiar ou não estou a na altura certa da vida para continuar.
Paolo Sorrentino é o realizador do filme Grande Beleza. O filme que venceu a categoria Melhor Filme Estrangeiro em 2014. O seu mais recente filme é A Juventude (Youth). O filme está nomeado este ano na categoria Melhor Música Original. Estou a torcer para que vença. Adoro o filme, adoro a música. No entanto, não recomendo para toda a gente. Não é um filme para agradar multidões.
O realizador escreveu este livro, lançado este mês pela editora Editorial Presença, com o selo Jacarandá. Comprei-o por curiosidade. Aliás, compro todos os meus livros, nenhum é oferecido em troca de opiniões. Os livros desta editora cheiram tão bem. Acho que têm o melhor cheiro a papel do país. Divagações à parte, voltando ao livro.
Dois amigos com cerca de oitenta anos, Fred e Mick, estão hospedados num hotel de luxo. Ao longo do livro vamos conhecer a história de vida de luxo e sucesso de ambos. Como se sentem perante a juventude dos outros e os tempos actuais de velhice.
A história é contada de uma forma pouco linear. Às vezes, os capítulos têm uma linha lógica, mas nem sempre. São cenas soltas, com diálogos maravilhosos (na maioria das vezes) ou episódios banais da vida. Parece que o autor passou a notas do roteiro do filme a limpo, limou as arestas e mandou editar o livro.
É engraçado quando os dois amigos conversam sobre a quantidade de pingos de xixi que conseguem fazer. Os temas de conversa mudam ao longo dos anos. Com a idade, talvez o mais importante seja a capacidade motora, isso é deixado bem explicito pelo narrador. A velhice é abordada de forma leve. Assim como são rompidos preconceitos.
Gostei de ler o livro, porque sou fã do filme. Confesso que estava à espera de um livro menos desfragmentado. Os capítulos pareciam apontamentos das cenas do realizador. Narrativa bastante crua. O autor não é explicito, as ideias ficam no ar, concluirmos o que quisermos. Este livro pode ter várias interpretações.
Foi o último livro lido para o projecto que tenho vindo a desenvolver relacionado com os Oscars. Um livro para leitores que pretendem ler sobre a juventude, sem profundidade.
O livro que inspirou o filme The Revenant, o filme nomeado para o Oscar na categoria melhor filme. É também o meu preferido para vencer o prémio. Este livro foi lido por causa do projecto que mantenho anualmente relacionado com o Oscar. Podem ler as outras opiniões AQUI. Com este projecto tenho descoberto vários autores novos. É sempre uma boa experiência fazer a ligação entre o filme e o livro.
Este livro foi baseado numa história verídica. A história passa-se em 1823, um grupo de caçadores procura animais para comercializar a pele. Os índios ao verem que as suas terras são invadidas por brancos decidem atacar. Mas é durante um ataque de um urso que Hugh Glass, o protagonista, é atacado e fica à beira da morte. No entanto, é abandonado pelo seus colegas sem nada. Ele decide vingar-se, para isso precisa manter-se vivo e encontrar o caminho de casa.
Existem inúmeras diferenças entre o filme e o livro. Neste caso, os motivos pelo qual o Glass decide vingar-se foram completamente alterados. Na minha opinião, gostei do que acrescentaram à história do filme. Deu mais consistência às decisões do Glass. Tornou-se num personagem menos frio e calculista.
A maior parte da história passa-se durante os tempos difíceis de Glass. O ritmo é lento, assim como a caminhada do protagonista para atingir o seu objectivo. O número de páginas podia muito bem ter sido reduzido. Alguns episódios são repetidos desnecessariamente.
Gosto da forma como é descrita a natureza em contraste com a frieza dos caçadores. Ao ler um outro livro em paralelo, onde os animais falam na violência dos homens (O Livro da Selva) e so respeito entre os animais, a experiência levantou alguns questionamentos. Afinal, quem são os selvagens? Foi deveras interessante. Este é um dos belos motivos para ler vários livros em simultâneo. Estas coincidências são mágicas.
Gostei mais do filme, posso dizer isto? Por variadissimas razões, mas sobretudo por causa da ausência de alguns personagens e situações. Gostei de conhecer a outra versão da história, a mais parecida com a real. Outra coisa, o Glass teve sempre o rosto do DiCaprio na minha imaginação.
Este filme conta a história uma mulher chamada Alice, filha de um agente conceituado no mundo literário, que se vê perante o passado quando tem de ir trabalhar para a empresa do pai. Ela é aspirante a escritora, mas está sem inspiração para continuar a escrever. Ela tem comportamentos estranhos e um desinteresse enorme por tudo.
O filme salta entre o presente e o passado da personagem. Para percebermos a personalidade da protagonista somos levados a conhecer a sua história. O jogo de tempos e lugares funciona. O mesmo posso dizer sobre as actrizes que figuram a adolescência e a fase adulta. Há coerência entre as duas. Confesso que ambas irritaram-me várias vezes devido à apatia dos rostos. Só senti empatia pela protagonista depois da sincronização entre o passado e o presente explicarem as suas motivações. Gostei, sobretudo a última meia hora. Do confronto final com a verdade.
Aqui fica o convite para a sessão de cinema do #vejamaismulheres.