Acho que posso afirmar que este é o melhor livro de José Rodrigues dos Santos. Não li todos, mas não é preciso. Li-o, apaixonei-me pelos personagens. Acabei por procurar outros livros do autor e sentir-me defraudada. O escritor junta factos verídicos com fictícios, como todos os seus livros. Não vos lembra ninguém? Um livro com a Primeira Guerra como pano de fundo. Vários anos passaram depois da leitura, lembro-me que gostei e vagamente da história de amor, mas sei que fiquei encantada na altura.
Quando não gosto de um livro prefiro não falar ou escrever sobre ele. Principalmente para não desmotivar alguém que tenha o livro na estante. Confesso que não gosto de ouvir falar mal dos meus livros preferidos. Não é pessoal, mas quase. Sinto-o cá dentro, apesar de ter noção da realidade. Respeito, não ofendo quem tem uma opinião diferente da minha, mas preciso de uma justificação. Gostos são gostos. Não é preciso dar muita importância. Ler é uma experiencia pessoa, lembrem-se. Já li diversos textos onde a malta enxovalhava a escrita de José Saramago. Neste caso, mesmo educada, não regresso. De resto, pode ser.
Adianto que não sou leitora veloz de fantasia. Quando ouvi falar das Crónicas Gelo e Fogo fiquei curiosa, sobretudo porque diziam muito bem dos personagens. Não são bons nem maus, são complexos. Bons personagens cativam-me. Essencialmente bons personagens aliados a uma boa história.
A releitura deste livro fez-me estar mais atenta aos pormenores da escrita de George RR Martin. É interessante verificar o que o autor nos vai dando antes de chegar ao verdadeiro desenlace da cena. Com conhecimento de causa, depois de ver a série, relembrar personagens e cenas tem causado uma estranha euforia em mim.
Cuidado, este post contém SPOILER. Aconselho que não o leia caso não tenha lido o livro.
O livro começa com o prólogo, uma cena macabra e muito bem escrita. Uma excelente apresentação da narrativa ao ambiente frio de Westeros. O autor criou um mundo chamado Westeros, com sete casas reais, onde apenas um rei governa.
O Rei governante é Robert Baratheon, amigo de infância de Eddward Stark (mais conhecido por Ned). Ned é convidado para ser a Mão do Rei. Mão do Rei é quem assume as responsabilidades do Rei quando este não pode, sendo também o seu conselheiro. Robert e Ned são muito diferentes, um impulsivo, o outro mais calmo. Robert é boémio, adora vinho e mulheres. Ned tem uma família com cinco filhos, pensa antes de agir e leva bastante a sério a honra. Contra a vontade de algumas pessoas, Ned aceita e passa a ser um alvo a abater. Para assumir as suas funções tem de partir para além das Muralhas do Castelo Stark.
No inicio é um bocadinho complicado decorar tantos nomes e títulos. Existe um mapa e um glossário dividido pelas casas reais com o nome dos personagens, um quem é quem para ajudar o leitor. Ao longo da leitura vai sendo cada vez mais fácil memorizar e interiorizar tudo. Cada capitulo é contado no ambiente de um personagem em especifico, o autor indica sempre no inicio dos capítulos qual o personagem focado. Nem todos os personagens terão direito a esse destaque, mas é possível conhecer os outros personagens a partir dos diálogos e histórias contadas através do personagem focado. Por exemplo, na Casa Lannister apenas o Tyrion tem direito a esse destaque no entanto conhecemos a restante família através do que ele conta ou através das atitudes dos personagens nos outros capítulos. A leitura desta forma é bastante dinâmica e entusiasmante.
O melhor desta história, para além do enredo, são os personagens. Complexos, tão reais que o leitor chega a questionar (do fundo do coração) se não terão existido. Duvido que quem leia este livro não sinta ligação com um personagem, no mínimo. No meu caso, com Tyrion. O anão desta história. Ele é sarcástico, inteligente e divertido. Uma das melhores cenas deste livro é quando ele decide assumir os seus crimes. O que eu ri.
Os filhos de Ned Stark têm um papel muito importante neste livro. Sansa, Arya, Rickon, Bran, Robb e o bastardo Jon Snow. Sansa é a menina bem comportada, educada para casar e ter filhos. Arya é a menina rebelde, parecida com um rapaz e muito querida. Rickon é o personagem com menos importância. Robb é o menino bonito, corajoso e protector. Jon Snow rejeitado pelo facto de ser bastardo vai para a Patrulha da Noite de forma a encontrar o seu lugar.
Outra personagem de grande destaque é Daenerys Targaryen, uma princesa da antiga dinastia. Ela vive com o seu irmão odioso Viserys. É uma rapariga coberta de medo, obrigada a casar com Drogo, um homem poderoso e influente do clã Dothraki. Acompanhar os seus capítulos é uma verdadeira surpresa. Uma misto de doçura e agressividade. Torci bastante por ela e odiei o seu irmão.
Este livro tem a quantidade certa de momentos altos. A história não tem momentos mortos, tem acção e suspense na medida certa. A escrita de George é inagualavel, cheia de pormenores onde a ironia está presente aliada a momentos de grande tensão.
Os meus moemtnso preferidos:
- Quando os filhos de Ned Stark encontram crias de lobos, cada um fica com um lobo. Os lobos vão ter um papel participativo na narrativa.
- Todos os momentos entre Ned Stark e Arya. Momentos ternurentos entre pai e filha.
- Quando Bran cai da Torre depois de ter visto algo que não devia. O meu coração apertou.
- Quando Sam conta como foi parar à Patrulha da Noite apesar de ser um rapaz bastante medroso. Adoro o Sam.
- Quando Ned enfrenta o Rei e diz que não concorda com a sua atitude perante uma decisão tomada abandonando a sala.
- A cena final.
O elemento fantástico está presente. Criaturas misteriosas tomam conta da narrativa provocando medo, sem dar muitas respostas (ainda) ao leitor.
Este livro é sensacional. Durante toda a leitura fui absorvida para aquele mundo. Quando não estava a ler nunca tirei os personagens da minha cabeça. Comecei a ler de imediato o segundo volume, A Muralha de Gelo. É impossivel terminar o primeiro volume e esperar para ler o segundo. Pelo menos para mim.
Provei o Magnum Pink. Sem sentimento de culpa. O gelado não é nada de especial. É bom, mas acaba por ser enjoativo da metade para o final. É o gelado mais fotogénico, lá isso é. Gelado combina com livro, não é verdade? Assim como combina com chocolate, bebidas quentes, chá frio, bolos, panquecas, crepes,... Uma combinação perfeita.