Amálgama | Rubem Fonseca
Bom dia. Acordei e li “Amálgama” de Rubem Fonseca. Sem parar. São contos, nem toda a gente gosta de contos. Eu gosto. Sobretudo contos crus, reais, violentos. Há uns tempos atrás li algo do autor, mas nem gostei muito. Sabes quando um livro puxa pela manga da tua camisola na esperança de chamar atenção como fazem as crianças? “Amálgama” fez isso comigo. Puxou, puxou. Cedi.
Este livro está cheio de personagens interessantes e passagens incríveis. Vontade de sublinhar tudo. Vontade de citar tudo. Tomara eu registar frases deste livro para citar um dia num jantar de amigos. Tem contos, tem poemas. Gostei bastante dos poemas. Todos. Dos contos, uns mais que outros. “Filho”, “Escrever”, “Best-seller”, “A festa”, “Os pobres e os ricos” e “As crianças e os velhos” são os meus preferidos. Este autor lembro-me imenso outro autor que amo (ou amei numa vida passada), o Bukowski.
Referências a Freud, Proust, entre outros. Uma certa tendência para órfãs de mãe, de pai ou ambos; anões; médicos; velhos. Afinal Rubem Fonseca pode dizer o que quiser, certo? Pode. E diz. Este livro é tão bom. Ainda bem que dei atenção à pequena e adulta criança. Foi um prazer enorme ler este livro.
Recomendo imenso. Leva quatro estrelas.
Citações
“Mas, voltando à minha pergunta: quem são as pessoas que frequentam essas festas? As pessoas são sempre interessantes. Sou fascinado pelas pessoas, gosto de imaginar o que fazem, o que sentem, suas angústias, ambições. Muitas não estavam ali pela boca-livre. Há quem não goste de ficar em casa, pessoas que não gostam de ler, de ver filmes, de ver televisão, que moram sozinhas e sofrem com a solidão. Outros gostam de ter uma oportunidade de se enfeitar, como as mulheres ― já vão dizer que sou misógino ―, elas gostam de mostrar suas jóias, seus adereços, seus vestidos novos.”
***
“O dicionário diz que escrever é representar ou exprimir, relatar, transmitir por meio de escrita, compor, redigir, desenvolver obra literária: conto, romance, novela, livro etc.
É isso o que diz o dicionário. Porém, escrever é mais do que isso, é urdir, tecer, coser palavras, tanto faz ser uma bula de remédio ou uma peça de ficção. A diferença é que a ficção consome o corpo e a alma. Os poetas também poderiam ser incluídos aqui, se eles não tivessem pacto com o diabo.”
***
“As pessoas andam pela cidade e nada veem. Veem os mendigos? Não. Veem os buracos nas calçadas? Não. As pessoas leem livros? Não, veem novelas de televisão. Resumindo: as pessoas são todas umas cretinas.”
***
“O amor não é para ser entendido é para ser sentido.
A poesia não é para ser entendida é para ser sentida.
O medo não é para ser entendido é para ser sentido.
A dor não é para ser entendida é para ser sentida.
O ódio não é para ser entendido é para ser sentido.
A morte não é para ser entendida é para ser sentida.”