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Qui | 28.11.13

Emprestar livros

Cláudia Oliveira

Sempre fui muito desligada do objecto livro. Nunca tive problemas em emprestar os meus livros. Considero que os livros não servem para estar numa estante quietos, à espera que os leia novamente. Normalmente isso nunca acontece. Existem tantos livros bons para ler e tanta falta de tempo nesta vida que o melhor é descobrir novos autores, novas histórias, novas capas.

 

Quando não gosto de um livro, não tenho problemas em desfazer-me dele. Para que havia de querer um livro que não gosto na estante? Mais vale dar a oportunidade a outras pessoas, quem sabe, seja o autor preferido a descobrir de alguém. Também já ofereci livros que adorei ler (como Saramago) a pessoas de bom coração, que amam livros da mesma forma que eu.

 

Já emprestei inúmeros livros, inclusive livros que adoro. Lamentavelmente, deixei de ter vontade de emprestar os meus livros, principalmente os livros que mais gosto. Isto, porque confirma-se aquilo que diversos leitores dizem: “Os livros não regressam”. Ou quando regressam, vêem em condições degradantes, sujos. Tristemente alguns nem sequer são lidos.

 

Este ano aconteceu diversas vezes os livros não regressarem. Ao longo dos anos aprendi a anotar num caderno o que empresto a quem. Também perdi a vergonha de pedir os meus livros de volta, mas as pessoas acabam por arranjar uma desculpa. Falta de memória, falta de tempo são as desculpas mais frequentes.

 

Ter centenas de livros na minha estante não faz de mim uma leitora feliz por faltar um ou outro livro. Os livros não são substituíveis. Gostaria que alguém entendesse o meu dilema. Tenho os seguintes livros emprestados: “A Sombra do Vento” de Carlos Luís Zafón, “Guia para uma Final Feliz” de Matthew Quick e “Mrs Dalloway” de Virginia Woolf. Adorei ler todos. Queria que outras pessoas tivessem o privilégio de apreciar uma boa leitura sem gastar um tostão. Não aconteceu, os livros não regressaram, nem foram lidos ainda.

 

 Os livros têm uma ligação emocional com o leitor. O exemplo mais próximo que encontrei para comparar esta ligação emocional são as cartas recebidas e guardadas numa caixa de papelão e a importância dessas para o destinatário. Uma carta contém informações pessoais e de valiosa importância para quem as guarda. Marca um momento especial na vida de alguém em forma de palavras. Ou reconhecimento. Lembranças em pedaços. Uma carta e um livro chegam igualmente ao coração de quem as lê. Livros são como cartas escritas ao mundo. As estantes são como as caixas de papelão.

 

Emprestar um livro é um acto de confiança. Nem todos estão preparados para passar no teste. A maioria considera o livro um objecto de pouca importância. Os professores ensinam a importância dos livros, mas nunca vi nenhum explicar como se cuida de um livro. Talvez estivesse na hora de aplicar esta matéria numa aula de Português.

 

 Algumas dicas:

 

1.       Nunca colocar o livro sem protecção numa mala.

2.       Não ter as mãos sujas quando for ler o livro.

3.       Não abrir o livro de forma a estragar a lombada.

4.       Acreditar que os livros são de extrema importância para o seu dono.

5.       Usar marcadores. Esqueçam as folhas dobradas.

 

Não empresto mais os meus livros. Fica desde já o aviso. Uma decisão tomada ao final de vários anos de desagrado. Estamos em 2013, existem livros digitais. A melhor solução na hora de emprestar livros. Acabaram-se os cantos rasgados, as capas sujas e o tempo de espera. Fica a sugestão, quando lhe pedirem um livro emprestado responda: “Posso emprestar-te o ebook”. Assim, a frio. Ou: “Está na biblioteca”.

 

Os livros são um investimento emocional. Lembre-se, recordações não se emprestam. Seja cuidadoso, caso seja um privilegiado.