Dia Mundial do Livro
Passar numa livraria e não entrar é um crime no meu curriculum de leitora. Passear pelas estantes, encontrar a capa mais bonita e tocar nas letras faz parte de todo o meu ritual como leitora. Posso até nem comprar nenhum livro (o que é difícil, garanto) mas tenho de entrar, sentir aquele cheiro ao longe. Só encosto o nariz às folhas quando o livro vive do meu lado e conhece o cheiro dos meus lençóis. Gosto de recordar alguns livros que já li, que nem me lembrava mais. Agora anoto, há três anos que o faço. A livraria podia ser a minha casa, com um lugar para comer. Consigo imaginar a minha cabeça deitava sobre um livro de Milan Kundera, um braço estendido sobre Calvino. Gostava de acreditar que os livreiros têm a mesma vontade que eu, ficar por uma noite no fundo de uma livraria, a ver cavaleiros de espada em fumaça e princesas felizes atrás de dragões, com casinhas cor-de-rosa perto de riachos. Livros a saltar das prateleiras para abraçar outros autores. Páginas a dançarem ao som de uma melodia de flauta enquanto os marcadores esticam os braços que não têm. As livrarias são como lugares encantados, têm de ser. Na minha imaginação os livros falam uns com os outros, contam como gostavam que o seu personagem tivesse tanta fama como o Harry Potter. No meu pensamento, o Harry Potter está a posar e a dar autógrafos ao adolescentes dos livros infanto-juvenil. São todos amigos, não existem rivais entre editoras. Sentem alguma tristeza quando não são lidos por massas mas sabem que não se pode agradar a gregos e troianos. Haverá um leitor para todas as histórias. Haverá um lugar para cada sonho.